Pulando a Fogueira

Como não gostar de uma festa junina? E quem não tem alguma lembrança - boa - dessa época? E por que é uma das festas que mais agrada as pessoas das mais variadas idades? Talvez seja por carregar em seu âmago uma inocência de gente "da roça", coisa que muitas outras festas não possuem. 

Trazida pelos portugueses ainda no período colonial, as festas juninas têm também elementos culturais de outras terras. A dança marcada, por exemplo, é contribuição da cultura francesa, assim como os fogos de artifício, tradicional arte chinesa. Todos estes elementos culturais foram, com o passar do tempo, misturando-se aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas, afro-brasileiros e imigrantes europeus) nas diversas regiões do país, tomando características particulares em cada uma delas.    

As festas juninas são uma oportunidade que muita gente grande tem de brincar, de sair da seriedade que a vida adulta impõe e voltar a ser criança. Ninguém precisa saber dançar, cantar, rodopiar.  Ninguém precisa ser bonito, elegante, pelo contrário, as festas juninas tradicionais - as tra-di-cio-nais  mesmo -  prezam exatamente pela simplicidade da gente do "interiorzão", com suas comidas e trajes típicos. Apesar de acontecer em grande parte do país, é na região Nordeste que os festejos juninos são mais elaborados e comemorados,  com muitas homenagens a São Pedro, São João e Santo Antonio.

Infelizmente, a modernidade sofisticou tanto os grandes arraiais que o que se tem hoje  em dia está muito mais próximo de um desfile de escola de samba do que das quadrilhas de festas juninas. Não duvido nada que um dia alguém tenha a ideia de construir um "arraiódromo", e que essas festas passem a ser pagas, com a presença de pseudocelebridades brigando (ou pagando) pela vaga de "noiva" da quadrilha...

Eu sei que participei de uma festa junina no Jardim da Infância por conta de apenas uma foto em que eu era a primeira da fila, não por ser a mais bonitinha, mas porque era a mais baixinha mesmo. Infelizmente essa foto não existe mais, muito menos a lembrança de ter participado de outras quadrilhas durante a infância.  E essa encheção de linguiça é para dizer que conto nos dedos os dias para ver Davi participando de uma quadrilha de festa junina.

Não é uma questão de "realizar meu sonho" ou a "minha frustração", como comentei aqui.  Se o meu tempo já passou e eu não tive oportunidade, por motivos vários, de aproveitar o que ele me oferecia, também não vou forçar meu filho a viver o que não vivi, mas não vou deixar de estimulá-lo a experimentar um momento tão comum na vida de tanta gente. Quero, mesmo, que Davi passe pela infância de forma a viver tudo - ou quase tudo - que ela possa proporcionar. Não estou preocupada se ele vai ser o "noivo" ou o "padre" da quadrilha; o que eu almejo é que ele curta enquanto ele gostar, pois quando ele não quiser mais, terá todo o direito de parar. É sério!

Talvez um dia ele venha a me odiar por isso, mas já coloquei orelhinhas de coelho na época da Páscoa e tentei colocar o gorro do Papai Noel no Davi, mas qual mãe não fez isso, pô?  E quando houver festa junina irei também desenhar um bigode e um belo par de costeletas nele, além de colocar o chapéu de palha e as roupas com retalhos.

Por ora, não tenho a intenção de dançar quadrilha ou pular fogueira, mas se houver oportunidade, vou arrastar pé e levantar poeira num forrozinho bem arretado, além de saborear canjica, milho verde, pé de moleque, bolo de aipim....porque festa junina é bom-dimais-da-conta-sôr!

Eu Chorei!


Eu sei que eu sou bem esquisita.....mas não tinha como não registrar essa experiência. Desculpe-me o tamanho do post.

Nunca simpatizei com a ideia de ver bichos presos. Não gosto, sequer, de passarinho engaiolado, pois acredito que não foi à toa que Deus tenha criado animais domesticáveis e selvagens.

Por conta basicamente disso, nunca havia visitado um zoológico na minha vida. Tudo o que eu conhecia em termos de animais selvagens era através de livros e documentários de tv, porém, não poderia furtar meu filho dessa experiência. Até que respirei fundo e resolvi levá-lo ao zoológico da cidade, a fim também de aproveitar os últimos dias do meu amado Outono, que se comportou muito mal este ano, cheio de dias chuvosos e massas polares.

O zoológico do Rio de Janeiro fica na Quinta da Boa Vista, antiga residência oficial da Família Imperial Brasileira, que se transformou no Museu Nacional.  É um parque enorme, arborizado, com espaço para correr, andar de bicicleta, apreciar a natureza e reunir a família para um piquenique.

Não há como não se maravilhar com a quantidade de espécies - muitas raríssimas - que habitam nosso país. Araras azuis, corujas, periquitos, águias, entre sabiás, lobos, macacos, e tantas outras que não me lembro dos nomes. Foi talvez nesse dia que eu me dei conta da dimensão da importância da nossa fauna e da ganância que ela desperta em tantos traficantes de animais. Apesar de não perder nem um segundo no local reservado aos répteis que, se dependerem da minha vontade ficarão, TODOS, enclausurados para sempre e sempre, tivemos que passar por um caminho onde havia alguns jacarés, tartarugas e jibóias, que para mim é tudo a mesma coisa.

Adentramos a ala dos pássaros e outras aves e, ao mesmo tempo em que me maravilhava, pois amo essa espécie, também comecei a não me sentir muito bem, sabe.  Cada cubículo comportava de 2 a 3 exemplares, empoleirados em algum galho ou borocoxados em algum canto.  Aliás, a maioria dos bichos estava borocoxada, quase não emitia som ou reação.  

Logo após essa ala veio o corredor dos primatas, desde os pequeninos sagüis - que aparecem de vez em quando lá em casa -, até os chipanzés e similares.  Em seguida, descemos para o lado destinado aos animais de grande porte e conseguimos ver uma girafa, lindíssima com seu pescoção malhado, comendo placidamente as folhas que sua língua preta alcançava nos galhos bem altos de uma árvore à sua frente. Mais adiante, avistamos também o elefante, que se movimentava tal qual aqueles bonecos de papai noel, que ficam rebolando nas vitrines. Esquisitíssimo. 

Até que, então, entramos na ala dos felinos.  E quando avistei a cauda do tigre, não consegui me conter e meus olhos se encheram de lágrimas!  Sim, meu povo, eu chorei! Me aproximei daquela jaula e encontrei um animal lindo, imenso, de tirar o fôlego, mas também borocoxado, triste, caído. Não foi diferente com os outros felinos, que também estavam "mansos demais". Por último, quando na maior aglomeração de pessoas, avistei o leão. Sentado, uma pata virada para fora, o olhar perdido no infinito, o tal rei da selva mais parecia um boneco de cera e por um momento achei que nem de verdade fosse. Entre chocada e triste, não fiz outra coisa a não ser sair daquele lugar o mais rápido possível, em prantos. 

Alguém pode pensar: mas Luciana, quando seu filho nasceu e quando ele foi operado, você não chorou! Não, não chorei, como já havia comentado aqui. Foram momentos preocupantes, de grande expectativa, e nessas horas eu não consigo chorar.  Mas, como também disse, eu chorei muito depois.

Meus "instintos" não me enganaram. Detestei ir ao zoológico e espero não precisar voltar àquele lugar, talvez nunca mais na minha vida. Enquanto muitos adultos e crianças se embeveciam, pipocando flashes e gravando seus vídeos, eu pagava meu mico chorando por ver - e depois saber - que os animais ficam dopados quando há um movimento maior de visitantes, a fim de não assustarem as pessoas.

Entendo que são apenas alguns exemplares daqueles que vivem livres em savanas, florestas e reservas pelo mundo, mas ainda assim, não deixaram de ser selvagens. Entendo que muitos daqueles animais são mais bem tratados que muitas crianças e idosos jogados pelos orfanatos e clínicas de recuperação que existem por aí. Percebi o asseio e o cuidado dos funcionários do zoológico, que prezam por aquele lugar e tentam, da melhor forma possível, dar algum conforto àqueles bichos.  Mas nada disso me convence a gostar de um zoológico.

Sei não, nesse assunto acho que vou tentar influenciar o Davi, tipo, fazer a cabeça dele, sabe. Não vejo o menor sentido em alguém gostar de bicho preso, ainda mais se ele - o bicho - for selvagem. Se bem que, nessas circunstâncias, parece que o bicho - homem - é bem mais selvagem.

Ah, sim [1]: Parece que o Davi gostou do zoológico, mas não deu muita atenção para a bicharada, afinal, ele estava tão empolgado com o tamanho do espaço a explorar que se ocupou em afinar mais ainda aquelas canelas, de tanto andar e cair.

Ah, sim [2]: Não gosto de gatos. Mas amo seus familiares selvagens.

Ah, sim [3]: A cirurgia de hipospadia do Davi foi marcada para 13/07/11.

Ah, sim [4]: Eu estarei DENTRO do centro cirúrgico, acompanhando tudo de pertinho.


Na Ponta da Agulha


Nosso país é um dos campeões em vacinação no mundo. É orgulho nacional a erradicação da poliomielite, por exemplo, e o Calendário Básico de Vacinação, que contém 12 tipos de vacinas  - e a cada ano inclui mais uma -, deve, digo, D-E-V-E ser documento oficial de acompanhamento do desenvolvimento infantil.  Mas nem sempre foi assim.

No início do século passado, a população do Rio de Janeiro se revoltou contra a campanha obrigatória de vacinação contra a varíola, no que foi conhecido como Revolta da Vacina.   Naquela época, o saneamento básico era muito precário e as pessoas, principalmente as da classe mais pobre, sofriam com doenças como febre amarela, peste bubônica e a tal da varíola. Não somente por conta do desconhecimento de seus efeitos, mas também pela maneira autoritária e violenta como eram tratadas, as pessoas se recusavam a se submeter à vacinação.  Mas isso é passado e hoje casos como peste bubônica, por exemplo, são raríssimos.

Nossas crianças são supervacinadas.  Além do Calendário Básico, há também as vacinas que são indicadas em consultórios particulares, que são pagas. Ou seja, até chegar aos 10 anos, por exemplo, é provável que a criança tenha tomado uns 14 tipos de vacinas, que servem para imunização e/ou prevenção.

E outro dia alguém estava falando a respeito da catapora e do sarampo.  Eu, por exemplo, não me lembro de jeito nenhum de ter sofrido com essas doenças, típicas da infância de muita gente, mas que hoje são raras de se manifestar. Me lembro do filho de uma amiga, que aos 3 anos teve catapóia (era a pronúncia dele). O bichinho ficou febril e cheio de pintinhas vermelhas, e sua mãe lhe dava banho de permanganato 2 vezes ao dia. Creio que esse sofrimento tenha durado em torno de 1 semana e meia, entre o pico da doença e a cicatrização das pintinhas. Hoje esse menino já é homem feito e tanto a catapóia quanto o permanganato são coisas de antigamente...

Sempre ouvi falar das tais "doenças de infância" mas não sei se havia uma taxa muito alta de mortalidade por conta delas.  Claro que não estou falando de poliomielite ou de meningite, ou mesmo de bócio ou doença de chagas, mas de sarampo, rubéola,  coqueluche, cachumba e a própria catapora.  Era quase certo esperar que quando a criança atingisse determinada idade ela fosse atacada por uma dessas doencinhas. Era uma espécie de "calendário", só que de doenças e não de vacinas.

Hoje a maioria das crianças não sofre mais  com essas coisas.  As doenças desta geração estão muito mais ligadas ao trato respiratório, e eu imagino que seja um pouco por conta da falta de um quintal ou de uma rua sem carros e outros perigos, onde elas pudessem correr e brincar.  Aquelas doenças geralmente eram tratadas dentro de casa, muitas com mezinhas passadas de mãe para filha, de avó para mãe. E as crianças sobreviviam. E tinham uma história das doencinhas para contar.  Hoje, o que mais se aproxima dessa lembrança talvez seja apenas da picada das agulhas, e o que ficar na memória cairá no buraco do esquecimento 5 ou 10 minutos depois,  muitas vezes por conta de uma balinha de morango, um pirulito ou mesmo um brinquedo.

No próximo sábado, dia 18,  haverá mais uma campanha de vacinação. Dessa vez serão oferecidas vacinas contra o sarampo e a poliomielite e nesse dia os postos ficarão abertos das 9 até às 17 horas. Além dessas, é importante colocar em dia o Calendário de Vacinação da criança, caso você tenha se esquecido ou ficado impossibilitada de levá-la no período marcado. É claro que haverá muito choro e ranger de dentes, porém, será pouco provável que você tenha que sair em busca de pastilhas de permanganato, muito menos de ir atrás de alguma receitinha caseira da sua bisavó. Bem provável também que nunca mais iremos ouvir de uma criança que um dia ela teve catapóia.




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Banana Verde


Sabe quando a gente coloca um cacho de banana verde embalado num jornal dentro do forno  para acelerar o amadurecimento? É prática muito comum na maioria das casas e vidas por aí. A gente vai olhando dia sim, outro não, até verificar que as bananas já estão amarelinhas,  prontas para o consumo.  Só quem já experimentou uma banana tirada diretamente do pé sabe a diferença entre elas, pois, por óbvio, o amadurecimento se deu de forma bem diferente. Às vezes, a banana que está no forno até amadureceu, mas a casca continua verde, e aí, o gosto fica mais esquisito ainda...Assim também, existem algumas crianças que eu chamo de banana-verde, e vou tentar explicar melhor essa minha percepção.

Outro dia estava lendo que Suri, a filha dos atores Tom Cruise e Katie Holmes, de apenas 5 anos, tem uma coleção de sapatos no valor estimado de US$ 200.000,00. Até aí, não me surpreeendi,  visto ser a guria filha de artistas endinheirados da indústria hollywoodiana. Imagino que filhos de príncipes, xeques, reis e imperadores devam ter um rol de pisantes até mais valiosos. Porém, o que me causou espécie (eu tô ficando besta, heim!) foi que a menina só gosta de sapatos com salto alto! E aí, eu me pergunto: de onde veio esse gosto tão.... peculiar, em se tratando de uma criança de 5, somente cinco aninhos? Será que é possível uma criança, já na tenra idade, se interessar por coisas "adultas", digamos assim, sem ser estimulada?

Isso me remeteu a um programa chamado "Pequenas Misses", transmitido por canal a cabo. Trata-se dos preparativos e a apresentação de meninos e meninas - muito mais meninas, claro -, que vão de 6 meses e 10 anos de idade, em concursos de beleza nos EUA. Cílios, dentes e até unhas postiças, bronzeado artificial, depilação, maquiagem pesada, penteados rocambolescos regados com tonéis de  laquê ou gel fixador e muita roupa brilhante, rodada e cheia laços e babados. Claro que não preciso dizer que a mais ansiosa, a mais nervosa, a mais angustiada, a mais hipertensa durante todo esse processo é a mãe da criança, né... É como se o futuro de sua vida estivesse sendo traçado naquele momento, em que sua criança é uma espécie de messias redentor dos sonhos seus  não realizados.

Por certo que muita gente acha o máximo esse tipo de concurso, e a criança que desde cedo desperta seu interesse pelo universo adulto muitas vezes também é admirada.  Não é difícil encontrarmos alguém que ache "bonitinho" um menina de seus 3 anos dizer que tem um namoradinho na escola, ou que já usa um linguajar mais sofisticado, ou mesmo que use saltos altos, batons ou maquiagem todos os dias. Olha, eu duvido, du-vi-do que ela tenha despertado seu interesse por coisas que estão fora do universo infantil sem uma "mãozinha" de algum adulto.

Confesso que eu tenho pânico, p-a-v-o-r de criança precoce. Não somente por achar que a infância dela foi "roubada" mas também porque a criança precoce de hoje geralmente é o adulto arrogante, egoísta, narcisista e extremamente inseguro amanhã. Não estou falando de talentos inatos e insuperáveis, como um Michael Jackson ou um Mozart, por exemplo. Não há como impedir que essa capacidade venha à tona, e é até saudável que ela seja estimulada e incentivada, com carinho, sabedoria, dosagem e limites. Mas quando a mão pesa ou a vontade do pai ou da mãe de realizar seu sonho em cima do talento da sua criança é maior, o desastre é certo, ou, assim como a banana do forno, o gosto é esquisito.


Crianças são bênçãos, são presentes de Deus, não troféus para serem expostas em vitrines, a fim de satisfazerem nosso orgulho e aplacarem nossas frustrações. Como eu não me canso de dizer por aqui, eu não sou especialista em nada, não tenho a menor capacidade de distribuir conselhos, mas infelizmente, o sentimento que eu tenho quando me deparo com uma criança banana-verde é que ela, no fundo, sofre de uma boa dose de infelicidade, pois além de não ter gosto próprio tem  também a enorme responsabilidade de preencher as ânsias e expectativas dos seus pais. E enquanto elas são forçadas a crescer fora do tempo, os pais se recusam a virar adultos...