"Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade." (Eclesiastes 4:9-12)
É sabido que o ser humano não nasce para viver isolado. Sociabilidade, a meu ver, é uma característica quase que nata da nossa raça. Viver em grupo não deixa de ser uma forma de sobrevivência. Existem, claro, pessoas que não conseguem viver entre seus iguais e que a melhor das situações é o isolamento. Mas isso é exceção.
Numa determinada cena do filme Eu, Robô, o personagem interpretado por Will Smith chega num depósito onde existem vários containers que acondicionam os robôs obsoletos. Ele nota um comportamento "humano": esses robôs, obsoletos, fora de linha, se aglomeraram de forma a não ficarem isolados, ou seja, se sociabilizaram. Na verdade, o robô principal tem esse objetivo: ser o mais sociabilizado e humanizado possível. Até as máquinas frias precisam uma das outras para não enferrujarem sozinhas.
A internação hospitalar em quartos individuais é uma espécie de sonho de consumo: ter a privacidade garantida, de forma que fiquemos à vontade para recebermos desde a equipe de limpeza até os visitantes. Podemos colocar o ar condicionado no nível que nos agrada, além de termos o controle remoto da TV ao alcance do nosso gosto. O banheiro também é território único, quase um feudo, sem falar no frigobar, onde podemos estocar guloseimas que não são servidas no hospital.
No quarto coletivo, como o próprio nome diz, a movimentação, por óbvio, é bem maior, tanto da equipe médica quanto de quem visita ou acompanha. Temos que dividir o ar condicionado,os armários, o banheiro, a TV, tudo. Privacidade se limita à divisão entre as macas, que é feita por cortinas plásticas. Uma conversa, uma soneca com ronco, um chulé, nada disso acontece sem que o vizinho paciente e seus acompanhantes não saibam ou não sintam.
Quando Davi, com exatos 4 meses de idade, foi internado com pneumonia, atalectasia e bronquiolite, ficamos, após a saída da UTI, num quarto coletivo com mais uma mãe e uma criança. Naquela ocasião, nosso plano de saúde cobria hospedagem em quartos individuais, porém, não havia vagas disponíveis. Foi apenas 1 dia dividindo o mesmo quarto e apesar de atravessar a noite sem dormir direito por conta do choro da criança, quando eles foram embora eu me senti só. Nesse mesmo dia surgiu um quarto vago e fomos realocados para lá.
E aí se passaram quase 2 semanas de isolamento. Tínhamos um quarto com tudo dentro, mas as visitas eram poucas, afinal, quanto menos pessoas, principalmente em se tratando de criança internada, melhor. Então, o que sobravam eram as aparições das enfermeiras e médicos. A sensação de solidão e isolamento não se dava apenas por estar num quarto individual, mas sim porque o mesmo não possuía janelas, o que fazia com que eu me sentisse dentro de uma jaula. O que era para ser um luxo começava a se transformar numa agonia.
Um dia, o nosso plano de saúde mudou e não nos permitiu fazermos um upgrade para quartos individuais e desde então temos nos internado em quartos coletivos. A perda da privacidade é sentida com muita força, mas parece que quando dividimos a situação com o outro os problemas e a estadia se tornam menos pesados e até a aflição de um quarto sem janelas fica menor. Assim como os robôs obsoletos do filme, nos aglomeramos e nos socializamos, não somente por uma questão de educação, mas talvez por necessidade de não nos sentirmos tão só.
Não significa que dividir quarto coletivo seja o melhor dos mundos, mas também não é a pior das situações, porque dividir UTI é bem pior, e imagino que dividir um corredor deve ser pior ainda. Apesar da falta de privacidade mas não reclamo de nada, pois tenho atendimento adequado às minhas necessidades. Vejo relatos de pessoas que aguardam atendimento médico em condições precárias e muitas vezes não são atendidas, então, me sinto privilegiada por ter essa oportunidade.
Só gostaria de ter o controle remoto nas mãos...
Quando Davi, com exatos 4 meses de idade, foi internado com pneumonia, atalectasia e bronquiolite, ficamos, após a saída da UTI, num quarto coletivo com mais uma mãe e uma criança. Naquela ocasião, nosso plano de saúde cobria hospedagem em quartos individuais, porém, não havia vagas disponíveis. Foi apenas 1 dia dividindo o mesmo quarto e apesar de atravessar a noite sem dormir direito por conta do choro da criança, quando eles foram embora eu me senti só. Nesse mesmo dia surgiu um quarto vago e fomos realocados para lá.
E aí se passaram quase 2 semanas de isolamento. Tínhamos um quarto com tudo dentro, mas as visitas eram poucas, afinal, quanto menos pessoas, principalmente em se tratando de criança internada, melhor. Então, o que sobravam eram as aparições das enfermeiras e médicos. A sensação de solidão e isolamento não se dava apenas por estar num quarto individual, mas sim porque o mesmo não possuía janelas, o que fazia com que eu me sentisse dentro de uma jaula. O que era para ser um luxo começava a se transformar numa agonia.
Um dia, o nosso plano de saúde mudou e não nos permitiu fazermos um upgrade para quartos individuais e desde então temos nos internado em quartos coletivos. A perda da privacidade é sentida com muita força, mas parece que quando dividimos a situação com o outro os problemas e a estadia se tornam menos pesados e até a aflição de um quarto sem janelas fica menor. Assim como os robôs obsoletos do filme, nos aglomeramos e nos socializamos, não somente por uma questão de educação, mas talvez por necessidade de não nos sentirmos tão só.
Não significa que dividir quarto coletivo seja o melhor dos mundos, mas também não é a pior das situações, porque dividir UTI é bem pior, e imagino que dividir um corredor deve ser pior ainda. Apesar da falta de privacidade mas não reclamo de nada, pois tenho atendimento adequado às minhas necessidades. Vejo relatos de pessoas que aguardam atendimento médico em condições precárias e muitas vezes não são atendidas, então, me sinto privilegiada por ter essa oportunidade.
Só gostaria de ter o controle remoto nas mãos...
No último fim de semana, Davi foi submetido a mais uma dilatação do canal da uretra, pois a estenose na ponta do piu-piu tem estreitado o seu jato de xixi. Deu tudo certo, como sempre, graças a Deus, mas acredito que esse procedimento irá se estender por um longo tempo.
Minha tendinite se foi, da mesma forma que veio: sem causa aparente, mas agora a mão direita está começando a arder.
Estou há quase 1 mês presa no nível 70 do Candy Crush Saga e no nível 80 do Farm Heroes e Davi agora está viciado em Angry Birds. Ah, a tecnologia...
Minha tendinite se foi, da mesma forma que veio: sem causa aparente, mas agora a mão direita está começando a arder.
Estou há quase 1 mês presa no nível 70 do Candy Crush Saga e no nível 80 do Farm Heroes e Davi agora está viciado em Angry Birds. Ah, a tecnologia...
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