18 março 2015

A diversidade e o esmalte vermelho

E daí que um dia Davi quis pintar as unhas de vermelho.  Eu perguntei o motivo, ele disse que gostava de vermelho.  Então, vou fazer o que?  Um escândalo? Não.  Nessas horas, quando curiosidades desse tipo nos atingem como um ovo na testa, temos que ter sabedoria para analisar a situação e resolvê-la da maneira mais equilibrada possível.
 
Peguei a caixa de esmaltes e pintei suas unhas.  Ele olhou, olhou e comentou: "acho que meus coleguinhas da escola não vão gostar".  Então, disse a ele que quem pinta as unhas com esmaltes vermelho (ou rosa, azul, etc) são meninas; meninos não pintam as unhas.  Eu não disse que meninos não podem pintar as unhas,  disse que meninos não pintam. Simples assim.  E daí que quando ele foi mostrar ao pai.... o pai do Davi deu um triplo twist carpado e mais três cambalhotas no ar e começou a gritar dizendo que meninos NÃO PINTAM AS UNHAAAS!!!
 
O homem ficou enlouquecido.  Eu fiquei furiosa porque ele começou a gritar com o Davi - e eu não admito que ninguém, além de mim, grite com o Davi, mesmo sendo o seu pai.  O tempo fechou.  O menino, acuado e com os dedinhos abertos com aqueles pontinhos vermelhos, ficou entre o pânico e o choro assistindo àquela cena patética.
 
Me acalmei, o pai se acalmou e começou a explicar que meninos não pintam as unhas.  "Veja, o papai não está com as unhas pintadas, porque meninos não pintam as unhas", disse, já quase chorando de arrependimento por ter feito aquele pequeno escândalo.
 
Expliquei ao pai do Davi que em determinadas situações, a gente tem que analisar qual o limite em que pode atender a curiosidade da criança.  Algumas vezes, a criança tem uma curiosidade simples e cabe a nós vermos o quanto de informação é suficiente para satisfazê-la.  Claro que para mim foi uma surpresa o fato de Davi querer pintar as unhas, depois de tanto tempo me vendo fazê-las, porém, não poderia transformar isso num circo em chamas.
 
Vamos ser honestos: claro, também, que esse tipo de comportamento, assim, de repente, desperta em nós a atenção em verificar qual a possível orientação sexual da criança, já que elas estão despertando sexualmente cada vez mais cedo.  Não podemos fugir desse nova realidade, até porque, nos dias de hoje, a questão tem sido tratada da maneira mais ampla possível, já que a nossa sociedade tem aberto espaço para a diversidade de escolha das pessoas.
 
O modelo antigo, de não se debater a questão, de fingir que ela não existe ou de condenar alguém que tem uma orientação sexual diferente da qual nasceu já não cabe mais nos dias de hoje.  Eu acredito que é função dos pais mostrarem o mundo do jeito que ele é, mas de maneira equilibrada, sem forçar a barra para um lado ou para o outro. Não é fácil, mas não cabe mais criar o filho homem para ser o macho-alfa-pegador, da mesma forma que criar a menina para ser uma florzinha indefesa e dependente.  Por outro lado, temos que estar abertos para aceitar e respeitar a opção que a nossa criança fizer no futuro - ou mesmo no presente.  
 
Mas não se engane, eu não sou tão mente aberta assim, porque eu não sei se estou tão preparada para encarar o diferente.  O que eu tento é encontrar um equilíbrio para a aceitação de uma eventual possibilidade.  O que eu espero de mim é sabedoria suficiente para não me tornar um fardo na vida do meu filho por conta daquilo que eu creio que seja o correto ou normal.
 
De uma coisa eu sei: o Davi nunca mais irá pintar as unhas de vermelho!
 
 

Ainda não fomos à consulta com a endocrinologista indicada pelo Dr. Martinelli.  Tenho curiosidade para saber qual será a sua contribuição para que o xixi do Davi não volte a ficar fino, pois o canal da uretra estreitou novamente.
 

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