Dia do Mestre

Sim, foi ontem, mas minha homenagem ficou para hoje mesmo.

Sou professora de formação, licenciada em Português/Inglês, e se existe uma das grandes frustrações da minha vida foi não ter tido a oportunidade de lecionar. Nem estágio eu fiz, já que trabalhava durante o dia inteiro e estudava à noite.  O máximo de contato com sala de aula e alunos eu tive ao assistir a uma aula de inglês, no Colégio Pedro II, em São Cristóvão.  Só.  Sei que tenho um bom potencial para o ensino, porém, a vida foi me levando para caminhos distantes dos quadros negros, que já estão entrando em extinção.  A necessidade de trabalhar e resolver a vida falaram mais forte do que eu almejava dentro de mim e talvez hoje eu sinto essa frustração por não ter me esforçado mais em buscar esse objetivo.

Sei que cada pessoa tem na memória e na história um professor, uma "tia" que, de alguma forma, a influenciou, para o bem e, em alguns poucos casos, para o mal, afinal, existem professores e Professores.  Esses últimos, cada vez mais raros, não se detêm em apenas repassar a disciplina acadêmica, mas acrescentam cores e caminhos e muitas vezes são determinantes na vida de muita gente. 

Nosso mundo está cada vez mais de cabeça para baixo, e sabemos que os valores morais e da família têm sido atacados com muita violência.  Isso não é uma opinião moralista, é um fato.  A figura do professor, que era até tratado como Mestre, não surte mais o efeito da autoridade de outros tempos.  A escola se tornou uma empresa, os alunos, clientes. Não raros são os casos de reações violentas de crianças e pais quando algum professor repreende o aluno com mais firmeza.  Aquela figura que é importante na formação e na educação dos nossos filhos se transformou em um prestador de serviços tão somente, afinal, como diria a Lady Kate, "tô pagano", então, tem que ser do jeito que eu (pai ou mãe) quero e ponto final.  E nada de disciplinar a criança.

Não se dá a importância fundamental e merecida a esse profissional  e eu fico imaginando como será daqui a alguns anos quando Davi e as crianças de sua geração chegarem ao nível da alfabetização e até universitário.  O que encontrarão? Lap-tops?  i-pads, telões com projetores e tutoriais virtuais e tantas outras parafernalhas que têm transformado a sala de aula numa cápsula virtual e impessoal, onde ninguém interage com ninguém dentro da realidade?  Sim, a tecnologia é muito bem vinda, mas eu ainda sou do tempo em que algumas coisas não perderam seu valor, como um toque pessoal, um livro físico, o respeito às pessoas e às autoridades.  Na minha opinião, a escola é fundamental para formar GENTE, muito mais do que profissionais, gêniozinhos que falam 5 línguas mas não respeitam o próximo.

Quem quer ser professor hoje em dia, num país que onde o que impera é o analfabetismo funcional, em que a pessoa até sabe "escrever" seu nome, mas não entende patavinas do enunciado?  Para que se esforçar tanto, já que as cotas "raciais" garantem o ingresso às universidades, como uma forma demagoga  e hipócrita de corrigir os erros da escravidão?  Quais serão os profissionais que teremos no futuro? Apenas diplomados mas sem formação alguma?  Como dizia um colega de trabalho, "tá feia a coisa".

Sim, existem professores nesses rincões escondidos e desconhecidos deste país, andando a pé em estradas empoeiradas e tirando o pouco que têm do bolso para comprar uma caixa de giz ou uma resma de folhas, a fim de levar algum conhecimento a crianças e adultos que estão fadados a esse maldito analfabetismo funcional que, na minha opinião, é a pior forma de analfabetismo, porque não entender o que se escreve ou lê é uma forma de se distanciar da liberdade de opinião e de pensamento, um dos maiores valores que se pode ter na vida. Sim, porque chegamos a um ponto em que ter pensamento próprio, independente, é quase que ofensa pessoal, porque ainda existem mentalidades que acham que quanto mais ignorante for o povo, melhor é para ludibriá-lo com promessas e ilusões.  Essa é a maneira moderna de se continuar com a escravidão, só que sem algemas ou chicotadas.  Quem ousa opinar ou sair das trevas da ignorância já é logo taxado de "elite"!

Nesse país onde a educação não é mais levada a sério,  em que o dirigente máximo se orgulha de não ter lido um livro na vida, onde os estudos são tidos até como ofensa pessoal, os que têm alguma condição financeira um pouco mais favorável vão em busca de uma escola particular para tentar garantir o mínimo de formação acadêmica  decente para seus filhos.  Sim, existem escolas públicas excelentes, com desempenho bem próximo a tantas outras escolas particulares, mas essas são exceções, infelizmente.  Costumo dizer que a "minha" escola pública deixou de existir há mais de 20 anos, em que havia professores comprometidos com a educação, bem remunerados e reconhecidos profissionalmente, e que exerciam o papel de autoridade sobre nós, que passávamos para a série seguinte por mérito, por esforço e não para dar lugar a outros alunos.

Como muita gente sabe, Davi está na creche desde que tinha 1 ano de idade, e não sou o tipo de mãe que passa a mão na cabeça se ele estiver errado, pelo contrário, as pessoas que ali trabalham também são responsáveis pela educação e formação dele, principalmente do caráter, dos valores morais e da família.  Não tiro a autoridade delas e elas sabem que têm toda a liberdade para corrigi-lo, de forma justa, porque assim me ajudam naquilo que eu não posso ver nem participar.

Como não valorizar essa gente?  Como ficar furiosa porque a professora chamou a atenção do meu filho porque ele estava em desobediência?  Existem excessos? Sim, mas estou segura que são exceções, até porque, com internet, redes sociais e tantos outros monitoramentos, não há como um professor passar dos limites sem ser conhecido e repreendido. 

Não estamos mais no tempo da palmatória, onde o aluno era humilhado com chapéus de burro e tinha que se ajoelhar no milho ou ficar em pé com a cara virada para a parede.  Por outro lado, percebo um certo desprezo por parte de alguns pais em relação aos professores de seus filhos.  Há casos em que, por causa de uma repreensão, a criança é trocada de escola, afinal, como eu coloquei lá em cima, a escola é vista como um estabelecimento de prestação de serviços, onde o que fala mais alto é o pagamento da mensalidade e não a disciplina e a correção.  E depois, quando essas crianças crescem e se tornam adolescentes insubmissos, rebeldinhos sem causa e tacam fogo em índios e empregadas domésticas, desrespeitando porteiros e empregadas, ainda haverá pais que os defenderão, afinal, "são apenas crianças"!

Bom, chega de protestos, até porque, como disse o filósofo mensaleiro Roberto Jeferson, eles despertam em mim os instintos mais primitivos!

Como agora a minha onda é cupcake, aproveitei e mandei alguns para a creche, além de uma pequena lembrança para Tia Suelen, a Mulher Maravilha, "tia" do Davi.  Como eu não estava bem, os cupcakes também não ficaram legais e as fotos também não ficaram legais, mas foi a maneira que encontrei para homenagear, não somente a elas, mas a todos os professores deste país.






E assim como os mico-leão-dourado, vamos valorizar os professores, porque são uma "raça" em extinção!
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