Davi não tem muitos brinquedos. Quer dizer, para o modelo de infância atual, meu filho não tem uma quantidade abundante de jogos, carros, quebra-cabeças e eletrônicos, talvez pelo fato de que ser menino, uma vez que eu já constatei que meninas, no geral, têm muito mais brinquedos do que meninos, ou talvez porque a prioridade de seus pais seja outra, tipo, dar uma escola com um bom nível de qualidade, o que não é lá muito barato.
Sim, falta dinheiro para comprar presentes à toda a hora e muitas vezes eu sinto culpa por não proporcionar a ele um jogo eletrônico, um boneco mais sofisticado, um carrinho com controle remoto, um I-pad... (isso mesmo, já tem criança na escola que leva I-pad, tá bom?). Porém, eu paro, respiro fundo e penso: será que existe realmente n-e-c-e-s-s-i-d-a-d-e de uma criança ter muitos, muitos brinquedos?
Sim, falta dinheiro para comprar presentes à toda a hora e muitas vezes eu sinto culpa por não proporcionar a ele um jogo eletrônico, um boneco mais sofisticado, um carrinho com controle remoto, um I-pad... (isso mesmo, já tem criança na escola que leva I-pad, tá bom?). Porém, eu paro, respiro fundo e penso: será que existe realmente n-e-c-e-s-s-i-d-a-d-e de uma criança ter muitos, muitos brinquedos?
Como eu venho de uma geração e classe social em que as crianças não tinham muitos recursos financeiros, era muito comum que se inventasse ou fizesse os próprios brinquedos. Não havia, como hoje, a facilidade em se adquirir bonecas, carrinhos, roupinhas, livros e jogos com preços acessíveis às mais diversas faixas de consumo.
Me lembro, por exemplo, que a pipa (ou papagaio) era um brinquedo muito especial, visto que sua confecção tomava um bom tempo dos meninos: buscar gravetos, moldá-los, preparar a linha, fazer a cola e colar o papel de seda, fazer a rabiola. Tudo bem que, ainda hoje, os guris do Campinho e adjacências ainda se estapeiam para pescar a pipa do outro, mas 1 pacote com 10 pipas, no Mercadão de Madureira, custa em torno de R$ 15,00. Elas já vêm prontinhas, com rabiola e tudo, é só colar. Fácil e... meio sem graça, né.
Ou seja, ganhar brinquedos, que em outros tempos era um evento geralmente restrito às festas como Natal e aniversário, tornou-se uma coisa meio que banal, até porque o que não faltam são pessoas que aplacam seu sentimento de culpa enchendo suas crianças de brinquedos, brinquedos e brinquedos.
Mas, voltando... outro dia fiz um "5S"* nos brinquedos do Davi e selecionei alguns que já não tomavam mais o seu tempo e atenção, já que o seu interesse agora é outro. Separei basicamente os brinquedos de encaixar formas e números e os embalei para doá-los à igreja Batista, que estava às voltas com o Projeto Cariri, no Ceará, uma caravana missionária àquela cidade.
Pode parecer absurdo, mas acredite: ainda existem crianças em várias partes deste país e desta cidade que não têm brinquedos. É uma contradição, porque ao mesmo tempo em que existe uma oferta grande, fácil e até barata, essa mesma oferta não atinge toda a população.
Já ouvi falar de algumas iniciativas para compartilhamento de brinquedos, mas não conheço nada parecido pelas bandas de cá. O importante - eu acho - é doar brinquedos - e roupas e/ou calçados - que estejam em bom estado de uso, i-n-t-e-i-r-o-s. É claro que em alguns casos, como brinquedos com peças de encaixe, uma ou outra peça desaparece misteriosamente, mas desde que não comprometa todo o conjunto, creio que o brinquedo ainda será bem utilizado. Foi assim que aconteceu com o jacaré verde, cuja letra A eu só consegui encontrar depois de ter mandado os brinquedos, mas todas as demais peças estavam nele.
Além de limpá-los, também acho importante fazer um embrulho no mínimo decente. Hoje em dia essas embalagens são fáceis de se encontrar, além de serem baratas. Não custa nada doar brinquedos, roupas e sapatos dessa forma e um brinquedo numa embalagem bonita passa o respeito à integridade da criança e ao seu mundo lúdico.
Não importa o valor da aquisição, acho que o importante é fazer com que eles ainda tenham um toque de magia e novidade, porque brinquedo novo não é necessariamente aquele que saiu lacrado da loja, mas aquele que não se tem.
Esse troninho quase não foi usado pelo Davi e está seminovo. Como eu não tinha um saco enorme para embrulhá-lo, apliquei apenas um laço lilás e espero que ele sirva para uma bela criança fazer suas necessidades.
Eu não tenho muitos problemas e abrir mão de objetos, roupas e sapatos. Eu penso da seguinte forma: não me serve, não uso há XYZ tempo mas pode servir para outra pessoa, então eu passo. É claro que Davi não tem ainda maturidade para se desapegar de seus briquedos. Como a maioria das crianças, ele não gostou muito de ver suas coisas saindo dos armários e como já ia começar a chorar, resolvi fazer esta seleção sem sua presença. Mas não sentiu falta de nenhum desses e, além disso, daqui a algum tempo ele irá receber presentes novos, por conta do seu aniversário e das festas de fim de ano e os brinquedos próprios para crianças abaixo dos 3 anos perderão de vez seu interesse.
Eu sei que existem brinquedos que a gente guarda por toda a vida, porém, dê uma olhada nos brinquedos de suas crianças. É certo que existem alguns que ainda estão em bom estado de uso mas que já não são do interesse delas. Faça um "5S" neles e saiba que existem, sim, várias crianças que têm muito pouco ou às vezes nenhum brinquedo. E nem precisa esperar o Natal ou outra data festiva chegar para fazer bonito. Isso pode ser feito a qualquer momento porque, para a criança, toda a hora é hora de brincar.
*5S é uma técnica japonesa muito aplicada em escritórios, que consiste dos seguintes princípios, que servem também para a casa, a vida:
1. Utilização (Seiri): Separar o necessário do desnecessário.
2. Ordenação (Seiton): Colocar cada coisa em seu devido lugar.
3. Limpeza (Seiso): Limpar e cuidar do ambiente de trabalho.
4. Saúde (Seiketsu): Tornar saudável o ambiente de trabalho.
5. Autodisciplina (Shitsuke) : Rotinizar e padronizar a aplicação dos S's anteriores
Parabéns, Lu, linda iniciativa!
ResponderExcluirQuando o Gui tinha uns 5 anos, ele já tinha amadurecido o desapego e me ajudou a juntar os brinquedos que não gostava tanto. Depois fomos juntos à uma favela e entregamos pessoalmente os brinquedos e a reação das crianças, ele lembra até hoje. Logo o Davi entende o espírito da coisa e já não vai chorar, mas vai se sentir feliz em proporcionar alegria à outras crianças. Adorei! :n beijão!
Obrigada, Neth. Num mundo cada vez mais egoísta, temos que começar mais cedo ainda a praticar o desapego.
ResponderExcluirBeijocas.
Emagreci 10 Kg no último ano, voou roupa prá todo lado!!
ResponderExcluirO que eu ia fazer com elas?
Tem gente que não dá nem o que sobra, imagina se vai dar o que precisa!
Quanto aos brinquedos, fui uma criança que fazia bonecas de espiga de milho e minha mãe fazia bonecas de pano , mas nós tínhamos espaço, podíamos correr, pular corda, jogar bola, subir em árvore...criança hoje não pode e não deve fazer nada disso pois as ruas não são mais seguras!
Então imagine a alegria de crianças presas e sem alternativa nenhuma, recebendo brinquedos e com a qualidade que vc doou?
O Senhor te recompense!!!
Cidoka
Oi, Cumadi!!! E você já reparou que quanto mais a gente tira e distribui, mais a gente tem? Lembra o azeite da viúva, não é?
ResponderExcluirBeijão.