Turbulências

Eu nunca andei de avião. Apesar de admirar essa maravilha do invento humano, meu negócio é chão, muito chão.  Não tenho a mínima vontade de experimentar, porque não me imagino presa num lugar por um tempo - às vezes indeterminado -, de forma que não tenha a chance de sair dali quando quiser.  Só de pensar eu já fico um pouco aflita.  Dizem que é o meio de transporte mais seguro que existe, mas todo mundo sabe que quando um avião cai.... é difícil sobrar mais do que ferragens e uma caixa preta para contar a história.

Quem já viajou de avião sabe que pode esperar  uma turbulência a qualquer momento.  Os que já estão acostumados nem ligam tanto - sei de gente que até consegue dormir nessas horas - mas esse momento não deixa de ser tenso, pois parece que a aeronave começa a tremer e aí cada um se segura como pode, porque não dá para parar e descer.  Para muitos, não adianta o lindo sorriso da comissária de bordo, nem mesmo a voz aparentemente segura e tranquila do comandante, porque o pavor é certo.  Depois que passa e tudo volta ao normal, o avião aterrissa corretamente e todos saem felizes ao encontro de suas pessoas e compromissos.  E aliviados em colocar os pés no chão, claro.

Nessa última semana passei por mais uma baita turbulência, e não foi dentro de um avião, foi na vida mesmo.  O pai do Davi foi parar num CTI com suspeitas de problemas cardíacos, além de termos perdido uma pessoa muito importante da nossa convivência.  Tudo-ao-mesmo-tempo-agora.  Não sei se a sensação é a mesma quando se está num avião, mas quando a turbulência da vida chega, parece que não termina nunca, e que o que já está ruim consegue piorar.  O que eu sei, de verdade, é que, por mais que haja turbulências na vida, não dá para ficar tranquilo, dormindo como um passageiro acostumado a viajar de avião.  Bom, pelo menos é assim comigo.  Vou me segurando como posso para não cair, já que não dá para descer, mesmo estando com os pés no chão.

Quando esse momento passa, além do alívio ele deixa também um desgaste emocional e até físico de um bom tamanho.  Aí, a gente tem que re-começar a se re-estruturar, porque nessa viagem que se chama vida não há garantia de que não vai haver outra turbulência - às vezes ela se torna a própria turbulência.

É um texto bem clichê, mas a vida é um clichê, e quando a gente vê que ela é apenas um sopro, uma linha tão tênue e frágil que a separa da morte, tudo se torna um clichê enorme, mas real e verdadeiro.

O pai do Davi está melhor e graças a Deus os exames não acusaram nenhum indício de problemas cardíacos.  Davi também está muito bem, sapeca, malandro, nos supreendendo a cada dia com uma novidade boa, e é bem provável que seja operado em dezembro.  Eu olho para trás e vejo, nesse caso, algumas turbulências que hoje mais se parecem marolinhas, mas que naqueles momentos foram bem pavorosas.  Felizmente e graças ao bom Deus, tudo tem se resolvido bem.

Mas diferentemente do avião, eu não posso escolher não viajar, porque a vida está aí, e a gente tem que respirar fundo, tirar forças sei lá de onde, para estar firme - e não dormindo - quando as próximas turbulências chegarem.  E depois que tivermos atravessado esses momentos, podemos aterrissar seguros e aliviados em estarmos vivos.  Para mais uma turbulência.

O que mais me alivia é que eu tenho um Deus em quem eu seguro as minhas mãos nessas horas e Ele nunca me deixa só.




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