O que se Aprende, o que se Ensina

Eu acho que algumas coisas se aprendem desde cedo e não adianta muito tentar depois de uma certa idade, pelo menos comigo é assim.

Me lembro que há alguns bons anos eu tentei aprender a fazer crochê.  Eu já estava há um bom tempo na casa dos 30 e por maior que fosse minha disposição e boa vontade, eu não consegui aprender a crochetar.  Minha amiga Carmem, por outro lado faz, aos meus olhos de leiga, um crochê maravilhoso, já que ela aprendeu lá na sua tenra infância, muito antes dos 10 anos de idade.

Alguns ensinamentos vêm de acordo com a idade, porém, em alguns casos, nunca é tarde para se aprender.  A fase da escolaridade ocorre cada vez mais cedo e a meta geral é que aos 8 anos a criança já saiba ler e escrever e, de preferência, entender o que lê e escreve.  Contudo, há pessoas que pela falta de oportunidade só são alfabetizadas depois de viverem uma boa parte da vida.  Nesse caso, e em outros também, nunca é tarde para (re) começar.  Às vezes até mesmo aprender a crochetar, o que não foi o meu caso.

Andar de bicicleta, por exemplo, é um daqueles aprendizados que mesmo que a gente não aplique com muita frequência, nunca esquece.  Podem se passar anos sem se andar de bicicleta, porém, um dia quando surge uma oportunidade, nós mesmos nos surpreendemos quando nos damos conta de que não nos esquecemos.  

E então, a vida vai nos fornecendo aprendizados, alguns que conseguimos absorver, outros nos quais não nos adaptamos de jeito nenhum.  Quando me conscientizei que jamais saberei crochetar, toquei o barco adiante e fui aprender outra coisa.

Outras coisas também aprendemos sozinhos e existem até os autodidatas, aquelas pessoas que não frequentaram cursos ou escolas e que aprenderam o que sabem sem nenhuma orientação externa, apenas com esforço e talentos próprio.

E quando falamos do amor?  Será que aprendemos a amar ou o amor é algo intrínsico a nós? Porque, se não me engano, existem as mais variadas escolas e cursos e técnicas de aprendizados dos mais simples aos mais complexos, porém, qual é a escola do amor?  Existe graduação, diploma, notas?

Minha reação ao pegar Davi no colo pela primeira vez foi de estranhamento.  Achei tudo o que estava acontecendo ao meu redor muito esquisito.  Não que eu não quisesse meu filho, mas era tudo muito novo e... bom, estranho, não tenho outra palavra.  Eu peguei aquela trouxinha de gente, bem pequena, e fiquei olhando e estranhando. Só fui realmente ter mais contato com Davi quando ele já estava na encubadoura, na UTI Neonatal.  Fui me aproximando aos pouquinhos, até porque ele era muito frágil e estando numa encubadoura tudo se tornava mais frágil ainda.  Me lembro que a primeira palavra que eu disse foi "Olá".  Sim, um breve olá.  Esse estranhamento, porém, durou muito pouco, porque de uma hora para outra o sentimento de que aquela criança era minha me tomou por completo e eu não queria arredar o pé dali de jeito nenhum.  Nos dias que se seguiram, eu passava todo o tempo com ele, no meu colo, dando-lhe o meu calor e o meu amor.  Não queria saber nem de comer, só de estar com ele o tempo todo.  

Durante os primeiros dias em casa eu não me lembro realmente de ter dito "Eu te amo" para Davi.  O que sei é que todos os dias eu falo e mostro isso para ele.  Até que um dia ele também me disse "Eu te amo" para mim e ainda fala (principalmente quando me acorda beeem cedo nos fins de semana).  Como ele sabe o que é o amor?  O que ele sabe a respeito?  Não sei, o que eu sei é que ele sabe que é amado e que está aprendendo a amar.  Não importa as malcriações, os castigos, as reclamações, ele sabe o que é amar e ser amado.

Assim como o crochê e o tricô que, a meu ver, se aprende muito mais e melhor já na tenra infância, eu tenho para mim que amar é um aprendizado que a gente tem quando é muito pequeno.  Se você notar alguém crochetando ou tricotando vai perceber que essa pessoa não está elaborando altos pensamentos a respeito do que faz.  Ela está fazendo até automaticamente, porque já está habituada, porque conhece os pontos e os macetes, pois já pratica há muitos anos.  Acho que o amor é assim mas, claro, não é algo automático como a frieza de uma máquina. É um hábito, uma aptidão que a gente ensina e aprende.  Também acho que o amor é uma escolha, porque se alguém não foi amado ainda assim pode escolher amar. Não fosse assim, acho que a humanidade já teria acabado, não?  E, claro, mesmo sendo um clichê, nunca é tarde para aprender a amar, basta disposição e vontade.

O que eu sei é que Davi tem plena consciência de que é amado e nos devolve esse amor também.  E em momento algum eu sentei com ele e disse: Davi, amar é assim, faça desse jeito.  Ele aprende com nossos gestos, com nossas palavras e com o sentimento que deixamos fluir da maneira mais natural do mundo.  E eu espero que tenhamos sempre capacidade de alimentar esse sentimento e essa escolha, na vida dele e na nossa também.


Este fim de semana fomos visitar a Galinha Pintadinha, que está dando expediente num shopping próximo.  Havia também uma roda gigante indoor, cuja "viagem" tem a duração de módicos 3 minutos, mas não cheguei a me arriscar, porque Davi poderia bem abrir seu clássico bocão de lá do alto.  Por um milagre divino, creio, Davi me permitiu fotografá-lo ao lado de alguns personagens da turma da Galinha Pintadinha.  Atentem para seu "espontâneo" sorriso...porque fotografar o Davi é um desafio à minha santa paciência.









De tanto buzinar nos meus ouvidos, acabei comprando alguma coisa do Ben 10 para Davi porque tento, com algum esforço, não influenciá-lo com marcas ou personagens.  Mas... os coleguinhas da escola estão aí para fazer esse serviço, não é?  Combinando pedido com oportunidade e necessidade, comprei-lhe um par de galochas, já que as chuvas vêm nos pegando sem hora e dia marcados e o tênis de ir para a escola começa a apertar seus dedinhos.


Mas quem disse que ele quer usá-las? Ameacei, então, doar as tais galochas para alguma criança.  Fui advertida de que se eu não o obedecesse ele iria embora para a casa do Nicolás (é assim que ele pronuncia o nome do seu coleguinha da escola).  Oi?

Aliás, quanta diferença, heim?  Quando experimentei esses sapatinhos pela primeira vez, qual não foi a decepção?  Pois eles simplesmente engoliram o pé do Davi e ele só conseguiu usá-los já com seus quase 6 meses de idade.



Agora eu já tenho que comprar calçados nº 25!




Quarta feira última levamos Davi para fazer mais-uma-dilatação, pois o jato do xixi dele voltou a ficar fino.  Dessa vez, o Dr. Martinelli decidiu que daqui a 1 mês e meio irá fazer uma pequena abertura na ponta do piu-piu, até porque o estreitamento nem está mais no canal e sim nessa ponta. 

O caminho da hipospadia é longo, mas temos sempre confiança de que chegaremos ao seu final.




Craftices: Gaveta e Flores de Tecido

Mais uma gavetinha reutilizada.  Esta é irmã da gaveta que eu fiz como porta-xicrinhas, esta aqui

Então, vamos lá.  Esta gaveta não estava tão baleada quanto a outra, só a parte de trás que estava meio feinha mas nada que não se resolvesse.


Depois de aplicar a P.V.A. comecei a pintura com um tom de rosa.  Não sei porque eu escolhi  essa cor, já que ela não me atrai tanto assim.  Eu fui fazendo a cor, colocando corante na tinta branca e misturando, até chegar a esse tom.  Apesar de ainda ter ficado muito "roseeeenha" e depois de umas 3 demãos eu achei que já estava na hora de pular para a etapa seguinte.

Decidi forrar a placa do fundo com um tecido bem fofo para que ela ficasse parecida com sua irmã e depois de toda a trabalheira da pintura, tentei tirar a tal da placa.  O que aconteceu?  Claro, emporcalhei a gaveta toda, pois a placa estava pregada AND colada na parte do puxador!  Alguém explica por que eu não fiz isso antes de ter começado todo o trabalho?

Colei o pano assim mesmo, sem tirar a placa, só que, na hora de cortar a sobra do tecido para acertar os cantinhos.... o tecido havia grudado nas laterais e melecou quase tudo.  Mas se é para fazer um trabalho com o mínimo de decência, então arranquei todo o tecido e a gaveta ficou toda trabalhada no hematoma rosa.



Como eu já estava desprovida de falta de tempo para lixar e começar a pintura novamente, tive a incrível, fantástica, original e totalmente revolucionária ideia de cobrí-la com... contact!  Pois é, depois eu me perguntei porquê eu não havia pensado nisso antes, ao invés de perder um tempo precioso com pintura.  Enfim.  Comprei um contact... "roseeenha", só que um pouco mais fechado (que era a cor que eu realmente queria), sem estampa e fui cobrindo a parte interna e as laterais e a parte dos fundos.  Nas laterais externas eu aproveitei que a pintura não havia sido prejudicada e apenas apliquei verniz.



Eu tenho uma certa resistência, quase uma implicância com flores de plástico.  Talvez pelo fato de não saber fazer arranjos, mas elas não me agradam.  Tenho um arranjo na mesa da sala com flores desidratadas e um outro que é com uma orquídea de plástico foi-me dado de presente.  Mesmo assim, rodei em algumas lojas do ramo à procura de flores que pudesse utilizar nessa gaveta mas nada me agradava.  Foi então que me lembrei das minhas florzinhas de tecido, que eu havia feito há algum tempo e que estavam reservadas para outro projeto. Eu já tinha comprado esse vaso branco e aí fui testando o arranjo com as florzinhas.

Depois que eu vi que ficou legal e gostei do resultado, colei o vaso com superbonder porque eu achei que cola quente, cola branca ou cola universal não iriam funcionar nesse caso.  E aí a gaveta ficou assim.



Eu a coloquei na porta "morta" que dá acesso à cozinha, do lado de fora, que fica ao lado da porta de entrada,  já que essa porta é um pouco recuada e o arranjo não iria atrapalhar a passagem de ninguem.  Além disso, como esta gaveta é meio pesada, achei melhor que ela ficasse aí bem quietinha ornando a entrada da minha casinha. 





E como Presidente Honorária AND Vitalícia do Movimento SUGAL - Salvem Uma Gaveta do Lixo -  eu dedico este post a Vero, do Além da Rua Ateliê.


Sobre o Mito e a Realidade

mito
[Do gr. m~thos, ‘fábula’, pelo lat. mythu.]

3. Representação de fatos ou personagens reais, exagerada pela imaginação popular, pela tradição, etc.
8. Coisa inacreditável, fantasiosa, irreal; utopia:


Falar não é fácil, imaginar, então, é mais difícil ainda.  Mas, sim, nem todas as mães são iguais e, portanto, no dia da hoje, em que se comemora a existência delas, há outras várias pessoas, adultos, velhos e crianças que não têm o que comemorar, e não é porque são órfãos de mãe.  São órfãos de maternidade.

A nossa cultura latina endeusa a figura materna, remetendo-a diretamente ao nível de santidade, talvez por influência do catolicismo romano, em que boa parte das santas católicas são mães e representam  a mais importante de todas: Maria, a Mãe de Jesus. A maior ofensa que se pode dar e receber é xingar a mãe, porque essa mulher, a partir da equivocada ideia de que gerou a vida, torna-se praticamente imaculada.  Mas não é assim.

Sabemos que há pessoas que não são mães biológicas mas são maternais e também há mulheres que são mães, porém, são destituídas de maternidade.  Portanto, colocar um ser humano no mundo não faz surgir a maternidade automaticamente, porque ela não é produto do corpo.  A maternidade vem do coração, não o físico, mas o emocional.  E espiritual também.

Sim, existem mães frustradas e incapazes de transmitir o mínimo de afeto aos seus filhos e assumir essa realidade é, para muita gente, uma questão principalmente de vergonha, porque, como falei acima, a figura materna é envolvida numa áurea de pureza e santidade e tocar no assunto é praticamente uma heresia ou mesmo um sacrilégio. Assim como qualquer ser humano normal, as mães têm defeitos só que algumas têm defeitos até demais e essa realidade - ou verdade - não é muito palatável quando se trata de um mito.

A tendência em se realizar nos filhos é comum à maioria dos pais, mas se torna mais evidente naqueles que não conseguiram tratar de suas frustrações e jorram em suas crianças todos os seus traumas e desgostos.  Não é difícil encontrar relatos de infâncias roubadas porque o pai ou a mãe obrigou a criança a passar horas estudando ou fazendo alguma atividade a fim de, no mínimo, alcançar a superação.  O que poderia, por exemplo,  ser uma simples e divertida aula de balé ou de judô, se transforma numa competição insana já que, na infância dos pais, o desejo de fazer ou vencer não foi realizado e, portanto, sua criança se torna responsável por preencher esse vazio, o que muitas vezes a leva a se tornar um adulto inseguro e com baixa auto-estima.

Há, porém, o outro lado, negro, inconfessável que, como bem definou Zuenir Ventura,  é "o mal secreto":  a inveja.  Sim, pois não é tão incomum assim encontrar pais que sentem inveja de seus filhos exatamente porque estes realizaram aquilo que é a causa de suas frustrações.  Uma formação acadêmica, um bom salário, uma realização profissional, um relacionamento amoroso, um talento ou capacidade que eles - os pais - não tiveram - tornam-se objetos de sua ira, mágoa e ressentimento em relação aos filhos.  E à vida. 

Mas voltando às "santas" do dia, existem mães que xingam seus filhos, escolhem um em detrimento do outro, menosprezam, envergonham, humilham e até matam, se não fisicamente, mas moral e emocionalmente suas crianças e, assim como a inveja, evitamos reconhecer a existência dessas mulheres.  A maternidade, contudo, não é passaporte para esse tipo de comportamento, que não deve ser aceitado nem tolerado, nem dos pais, nem de ninguém.  Às vezes não adianta, a pessoa não vai mudar, então,  é preferível bater em retirada a ter que viver em constantes conflitos.

Muitos pais usam o argumento de sua péssima infância para justificar sua violência ou autoritarismo.  Não percebem que a vida lhes dá uma oportunidade de começar - ou recomeçar - com a chegada dos filhos,  de corrigir a ausência de afeto e de curar as mágoas.  Porém, muito além de um sentimento, essa é uma questão de escolha.  Ou se semeia coisas novas e boas ou se mantém na mágoa da terra batida e seca.


Os filhos crescem rápido, porém, a gente sabe muito bem que o que fica para sempre, para o resto da vida deles é o que se vive nos primeiros momentos.  É o que se chama "memória afetiva" que deixa uma marca indelével na alma.  Mas cabe a nós escolher: ou repetimos o exemplo que nos foi passado, ou fazemos tudo novo.  Não creio que a maternindade seja algo místico, mas uma escolha porque, apesar de já ser batido e rebatido, ser mãe de VERDADE não é fácil, pois requer, entre tantos desafios, desprendimento e nem todo mundo está a fim de se desvencilhar de seu passado, de suas frustrações, das pedras que insiste em carregar.


O que eu desejo no dia de hoje é que você que é mãe não fique à espera de oblações, mas  proporcione aos seus filhos todo o amor e afeto que a vida lhe deu ou roubou. Sim, , doe, ofereça, abra os braços. Não use desse momento para cobranças, por mais que a tentação seja grande.  Dê aos seus filhos mais do bom do que você recebeu sem sufocar porque  eles não são responsáveis por suprir as tuas carências.  Assim como eu, você é frágil, imperfeita e, portanto, não é santa nem imaculada e não precisa de oferendas, pois quando a memória afetiva da sua criança é boa, você vai ser homenageada todos os dias e não burocraticamente uma vez por ano.


Bom domingo.