Respeito à Infância

Houve uma época em que os direitos e deveres dos filhos eram apenas obedecer aos mais velhos.  Nada de conversas, muito menos brincadeiras, apenas obediência.  Esse era o modelo geral porque, claro, havia as exceções e algumas pessoas, hoje idosas, lembram de sua infância e de seus pais com muita alegria e carinho.

Além da falta de carinho, não se dava a devida importância aos sentimentos e imaginação dos pequenos, pois muitos pais apenas repetiam o modelo que haviam vivido e aprendido e consideravam esse distanciamento o melhor caminho para a formação de um adulto íntegro. 

Mas sabemos que as coisas mudaram e hoje muitos pais entendem que a proximidade, o afeto e o respeito aos seus filhos são ingredientes fundamentais para a formação de um adulto saudável.  Mais uma vez há as exceções, quando os limites não são devidamente estabelecidos e a falta de respeito impera por todos os lados.

Uma das coisas que quase não se davam - e ainda não se dão - a devida consideração e respeito é à imaginação da criança.  Porque se existe uma coisa que marca profundamente uma criança é quando não respeitam seu universo lúdico e a tratam como se adulto fosse.  Não é somente aquela leve decepção em descobrir que o Papai Noel é, na verdade, o tio ou o pai, ou que o coelhinho da páscoa não existe, mas a falta de consideração e respeito para com um personagem imaginário ou um brinquedo, de forma que não se dê o tamanho da importância que tem para aquela criança.  Desde que, claro, isso não seja algo que comece a influenciar negativamente a convivência dels com a família e amigos.

Isso posto, gostaria de compartilhar a história de Luka Apps, um menino britânico de  7 anos que, ao perder um de seus briquedos-personagem da marca LEGO, escreveu uma cartinha para a empresa relatando sua história e recebeu uma resposta à altura do respeito à sua imaginação e infância. 

Eis a cartinha de Luka :

“Olá,

Meu nome é Luka Apps e eu tenho sete anos de idade.

Meu pai acabou de me levar ao Sainsbury’s [uma grande rede britânica de lojas] e me disse para deixar os bonecos em casa, mas eu os levei mesmo assim e perdi o Jay ZX na loja, quando ele caiu do meu casaco.

Estou muito chateado por ter perdido ele. Papai disse para eu enviar um e-mail para ver se vocês podem me mandar outro.

Eu prometo que não vou levá-lo para a loja de novo.

Luka”


Eis a resposta fantástica do funcionário da LEGO:

“Luka, eu disse ao Sensei Wu que perder o seu boneco Jay foi somente um acidente e que você nunca, nunca vai deixar que isso aconteça de novo.

Ele pediu para que eu lhe dissesse: “Luka, seu pai parece um homem muito sábio. Você deve sempre proteger seus bonecos Ninjago como os dragões protegem as Armas de Spinjitzu!”.

Sensei Wu também me disse que eu posso lhe enviar um novo Jay e que eu posso incluir alguns itens extras, porque qualquer um que guarda o dinheiro que ganhou de Natal para comprar o conjunto Ninjago Ultra Sonic Raider deve ser um grande fã da linha Ninjago.

Então, espero que você se divirta com seu boneco Jay e todas as suas armas. Você, na verdade, terá o único boneco Jay que combina três Jays diferentes em um só! Eu também vou lhe enviar um cara mau com quem ele possa lutar.

Mas lembre-se do que Sensei Wu disse: mantenha seus bonecos protegidos como as Armas de Spinjitzu! E, é claro, sempre ouça o seu pai”.

Eu não faço - ainda - a menor ideia de quem sejam  Jay ZX ou  Sensei Wu, muito menos conheço  as Armas de Spinjitzu mas o funcionário sabia e muito. Não foi sensacional?  Eu quase cheguei às lágrimas, tamanha foi a sensibilidade desse funcionário em entender  e respeitar o drama do menino.  É o que chamamos de empatia, quando nos colocamos no lugar do outro para sentirmos o que o outro está sentindo.  Infelizmente, empatia é para poucos e muitas vezes esse ingrediente é um dos que mais faltam na infância.

Em relação à LEGO, temos que considerar, porém, que seu posicionamento é uma questão de cultura.  Aqui no Brasil, onde o "jeitinho" e a ixperteza é o que imperam, penso que esse caso não seria resolvido nem dessa forma nem de outra, muito por causa do medo de golpes de malandros que só querem se dar bem às custas do prejuízo alheio. 

Por outro lado, note-se também que a "desobediência" de Luka para com o pai não foi resolvida à base da violência física ou verbal, já que a perda do brinquedo pode ser considerada a própria punição - pelo menos é o que se dá para entender do contexto.  Talvez se o episódio ocorresse em outros tempos, em outra geração, ou em muitos lugares hoje em dia mesmo, Luka seria severamente punido e essa história teria contornos bem desagradáveis.





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