Crianças podem fazer musculação?

Matéria de Renato Dutra na revista Veja nesta semana.



Notei em algumas academias e clubes uma frequência de praticantes cada vez mais jovens, alguns ainda no início da adolescência. Isso me fez lembrar toda a controvérsia a respeito do tema, pois muitos médicos são contrários à prática de musculação nessa faixa etária. Mas afinal, o que os estudos têm a dizer a respeito?

Uma revisão feita por dois médicos de Salvador (BA) e publicada na Revista Paulista de Pediatria traz informações importantes para pais que querem estimular a prática da atividade física sem provocar efeitos negativos sobre o crescimento e o desenvolvimento de seus filhos.

Abaixo, cito as principais recomendações dos pesquisadores:

1 – O exercício físico leve a moderado, de forma geral estimula, o crescimento e deve ser incentivado. A atividade física extenuante, principalmente quando associada à restrição dietética, afeta o crescimento, o desenvolvimento do adolescente na fase puberal, a função reprodutiva e a mineralização óssea. O treinamento de alto rendimento deveria acontecer somente para os adolescentes mais velhos, que já apresentam estágio de maturação óssea finalizado.

2- Quanto à prática de musculação por crianças e no início da ado­lescência, algumas pesquisas a consideram prejudicial. Outras, porém, sustentam que ela pode ser benéfica, desde que seja bem supervisionada. Aqueles que são contrários à prática alertam sobre o potencial risco de lesão da cartilagem de crescimento e de fechamento precoce dessas estruturas, como resultado de sobrecarga excessiva. Isto é particularmente importante em crianças com baixa estatura que, na tentativa de compensar a baixa altura com o aumento da massa muscular, podem prejudicar ainda mais seu potencial de crescimento.

O efeito benéfico e seguro da musculação em crianças se observa em progra­mas experimentais que utilizam pesos sob supervisão de instrutores, com freqüência de duas a três vezes por semana. Nesses casos, mesmo em crianças pré-adolescentes, ocorre um aumento de força e resistência muscular em resposta a adaptações neuromusculares, na ausência de hipertrofia muscular, com baixo risco de lesão e sem afetar negativamente o crescimento.

Em resumo, é preciso muito cuidado ao permitir que pré-adolescentes façam musculação. Apenas cargas moderadas, com dois ou no máximo três treinos semanais, e sempre supervisionados por profissionais qualificados. Na ausência destas condições, o ideal é esperar pelo término da fase de crescimento dos filhos, para evitar danos aos jovens esportistas.

Para saber mais:
Alves, C. & Villas Boas Lima, R. :  Impacto da atividade física e esportes sobre o crescimento e puberdade de crianças e adolescentes.  Rev Paul Pediatr 2008;26(4):383-91.
Por Renato Dutra



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