Notei em algumas academias e clubes uma frequência de praticantes
cada vez mais jovens, alguns ainda no início da adolescência. Isso me
fez lembrar toda a controvérsia a respeito do tema, pois muitos médicos
são contrários à prática de musculação nessa faixa etária. Mas afinal,
o que os estudos têm a dizer a respeito?
Uma revisão feita por dois médicos de Salvador (BA) e publicada na
Revista Paulista de Pediatria traz informações importantes para pais
que querem estimular a prática da atividade física sem provocar efeitos
negativos sobre o crescimento e o desenvolvimento de seus filhos.
Abaixo, cito as principais recomendações dos pesquisadores:
1 – O exercício físico leve a moderado, de forma geral estimula, o
crescimento e deve ser incentivado. A atividade física extenuante,
principalmente quando associada à restrição dietética, afeta o
crescimento, o desenvolvimento do adolescente na fase puberal, a função
reprodutiva e a mineralização óssea. O treinamento de alto rendimento
deveria acontecer somente para os adolescentes mais velhos, que já
apresentam estágio de maturação óssea finalizado.
2- Quanto à prática de musculação por crianças e no início da
adolescência, algumas pesquisas a consideram prejudicial. Outras,
porém, sustentam que ela pode ser benéfica, desde que seja bem
supervisionada. Aqueles que são contrários à prática alertam sobre o
potencial risco de lesão da cartilagem de crescimento e de fechamento
precoce dessas estruturas, como resultado de sobrecarga excessiva. Isto
é particularmente importante em crianças com baixa estatura que, na
tentativa de compensar a baixa altura com o aumento da massa muscular,
podem prejudicar ainda mais seu potencial de crescimento.
O efeito benéfico e seguro da musculação em crianças se observa em
programas experimentais que utilizam pesos sob supervisão de
instrutores, com freqüência de duas a três vezes por semana. Nesses
casos, mesmo em crianças pré-adolescentes, ocorre um aumento de força e
resistência muscular em resposta a adaptações neuromusculares, na
ausência de hipertrofia muscular, com baixo risco de lesão e sem afetar
negativamente o crescimento.
Em resumo, é preciso muito cuidado ao permitir que pré-adolescentes
façam musculação. Apenas cargas moderadas, com dois ou no máximo três
treinos semanais, e sempre supervisionados por profissionais
qualificados. Na ausência destas condições, o ideal é esperar pelo
término da fase de crescimento dos filhos, para evitar danos aos jovens
esportistas.
Alves, C. & Villas Boas Lima, R. : Impacto da atividade física e esportes sobre o crescimento e puberdade de crianças e adolescentes. Rev Paul Pediatr 2008;26(4):383-91.
Por Renato Dutra