Na Telinha 2

Continuando a minha análise altamente imparcial sobre alguns desenhos e programas infantis, vou citar outros personagens que agora fazem parte do meu universo televisivo.  Sim, pois quem já é ou passou a ser mãe ou pai, provavelmente acompanha a programação infantil na telinha,  não só para saber o que sua criança está assistindo mas também porque gosta e porque é uma atitude altamente saudável (opa!). Ok, dessa vez eu vou ser boazinha....

Thomas e Seus Amigos
As aventuras de Thomas e seus amigos são baseadas nas histórias do Reverendo W. Awdry, de 1945, que  as dedicou a seu filho Christopher, uns 60 anos passados. Thomas é uma locomotiva que vive na Ilha de Sodor, que é rodeada por um lindo mar azul, e que tem a maior concentração de malha ferroviária por metro quadrado no mundo!

Eu disse locomotiva?  Não! Thomas é uma loucomotiva, pois vive se metendo em encrencas, para não dizer que só vive fazendo cacas.  Com sua cara em forma de lua cheia, Thomas não ouve completamente as instruções que lhes são passada e sai feito um desarvorado para cumprí-las, o que o leva a fazer bobagens, dando uma baita dor de cabeça a Sir Topham Hatt, o diretor da ferrovia.

Sir Topham Hatt
Este senhor de formas generosas e bochechinhas rosadas, e que se veste de fraque e cartola, está sempre às voltas com as demandas na direção da ferrovia. Dia sim, outro também, Sir Topham Hatt saca um puxão de orelha de dentro de sua cartola para educar e controlar Thomas, o descarrilhado.

As histórias são simples, e acho que a "moral" delas gira em torno de obediência, compromisso e atenção, coisas que Thomas invariavelmente não tem. Thomas tem boas intenções, porém, sua cabecinha cheia de fumaça e cinzas muitas vezes o leva a atrapalhar mais do que a ajudar.

No fundo, acho que Thomas tem um pouco de SDA - Síndrome de Déficit de Atenção - porque não há um episódio em que ele, ao ser ordenado a fazer alguma coisa,  não saia destrambelhado ilha afora. Ao final, sempre se dá conta de que não deveria ter agido daquela forma, pede desculpas e ponto.

Há, ainda, a Angelina Bailarina, uma ratinha cujo universo gira em torno de passos de danças de balé.  O programa é bem gostosinho, e Angelina faz parte daquela típica família papai-mamãe-irmã-irmãzinha, que vivem numa casa que tem papel de parede na cozinha e que mamãe assa 4 cookies para todo mundo.
Ela não é fofa?





E ainda há mais outros e outros e outros personagens e programas infantis que não foram citados aqui, simplesmente porque não me chamam tanta atenção assim, ou porque ainda permanecem muito bons, como o  Muppet Show/Sesame Street (Vila Sésamo) e os Backyardigans, por exemplo. Veja, não chamam a MINHA atenção, porque o Davi não está muito ligado nessas coisas, não.  O negócio dele é a abertura e a musiquinha da novela Ti-Ti-Ti.  O mundo pode estar se acabando, mas quando começa a musiquinha e aquelas lapiseiras preta e vermelha aparecem na telinha, ele não dá atenção a mais nada.

Ah, sim, outra coisa interessante que notei naquele menino é que ele gosta também de apresentadores de telejornal.  Não importa quem seja, se é apresentador de telejornal, Davi sempre o cumprimenta com um largo sorriso. Imagino que quando começar a falar, é provável que vá responder ao "Boa Noite" do William Bonner e da Fátima Bernardes.

Conclusão:

1. Os atuais desenhos animados e programas infantis estão muito compromissados com as questões ecoambientais e estilo de vida saudável. Foi-se a época em que ratos fugiam de gatos, ou de corridas malucas que nunca tinham fim. Esses ainda existem, porém, já se tornaram um clássico e criança gosta de novidade, principalmente se essa novidade tiver forma de brinquedo ou boneco e à disposição na loja.

2. Existem, também, os desenhos japoneses, em que todo mundo é retratado com olhos imensos e lacrimejantes. Esses, por enquanto, estão fora de cogitação, até porque utilizam de bastante violência em suas histórias.

3. Os Pinguins de Madagascar são um barato.  O Bob Esponja, apesar de lesado, também é bem divertido.

4. Acho que o Rev. Awdry poderia ter orado mais por Thomas, a fim de que essa loucomotiva fosse menos atirada. Mas aí não ia ter graça, né.

Na Telinha 1

Definitivamente, os desenhos animados não são mais os mesmos.  Com  uma postura ecologicamente correta, somada a uma vida de hábitos saudáveis, hoje somos brindados com desenhos e entretenimentos infantis cuja abordagem, em geral, gira em torno desses temas.

Nesse sentido, LazyTown é, a meu ver, o que melhor reflete essa proposta nos atuais programas infantis.  Eu queria assoprar primeiro e morder depois, porém, implicante que sou, vou morder agora mesmo, com uma visão bem peçonhenta a respeito de alguns de seus personagens.

LazyTown
Vista de cima, LazyTown se parece com uma grande pizza marguerita e, numa tradução tosca, pode ser definida como Cidade da Preguiça. Como sugere o nome, seus habitantes não são muito chegados a atitudes saudáveis, como esportes, brincadeiras ao ar livre, frutas, legumes ou  sucos, e um dos  grandes  responsáveis por mantê-los assim é Robbie Rotten, o vilão.    

Além da sobrancelha modelada à cera quente, essa criatura conseguiu reunir, num mesmo lugar, o topete do Vanilla Ice (Ice Baby) e o queixo do Bond Boca. Com seu colete encolhido até acima da boca do estômago e sua calça bailarina estampada a la Dick Vigarista, Robbie Rotten vive no seu esconderijo subterrâneo refastelado numa enorme poltrona, se empapuçando de porcarias como frituras, massas, doces, pipocas e sorvetes.

Apesar de preguiçoso, Robbie Rotten está sempre em alerta, maquinando tramóias e armando ciladas a fim  de deixar as crianças de LazyTown longe do contato com atividades saudáveis e consumo de alimentos nutritivos, num esforço contínuo em mantê-las numa constante malemolência sedentária. Até que um dia, sua paz é interrompida pela chegada de Stephanie, sobrinha do prefeito de LazyTown.

Stephanie chega a LazyTown em busca de aventuras e de novos amiguinhos.  Ninguém sabe de onde ela vem, somente que tem parentesco com o prefeito. Essa menina, que se veste de rosa e usa uma peruca pink, gosta muito de brincar, cantar e dançar, cantar, dançar e brincar, cantar, brincar e dançar, dançar, brincar e cantar. Ela acorda dançando e cantando, passa o dia cantando e dançando e vai dormir dançando e cantando.  Mantendo esse ritmo, num futuro próximo Stephanie poderá se tornar a mais nova Lady Gaga, pois peruca, ritmo e fôlego ela já tem.

Além da saudável, pululante e ritmada Stephanie, temos Sportacus, o "mocinho" da história.


Sportacus é  uma sugestiva junção do nome Spartacus  e Sport, que significa esporte. Isso já diz bastante a seu respeito, não?

Sportacus vive numa aeronave em forma de dirigível, cujo ambiente é praticamente todo branco -  um sutil convite a um ataque de pânico.  Sportacus não anda colocando os pés um ante o outro, ele dá cambalhotas para se locomover.  Sportacus não descansa, vive fazendo alongamentos, flexões e abdominais, a qualquer hora do dia, em qualquer lugar. Sportacus é saudável, muito saudável. Nas horas vagas, atende ao chamado de Stephanie ou de outros moradores de LazyTown para ajudá-los a sair das ciladas de Robbie Rotten.

Sportacus não come doces, nem massas, nem sorvetes, nem refrigerantes, só consome "coisas saudáveis". Sportacus é praticamente um vegetariano ou, talvez, um vegan, o que me faz acreditar que ele seja um tremendo chato. Imagino Sportacus se deliciando com uma suculenta salada de chuchu feito na água e sal com cobertura de molho de jiló.  Após as refeições, é provável que Sportacus destaque um de seus bigodinhos a la.... Dick Vigarista (!) e comece a palitar os dentes antes de escová-los. Deve ser incalculável a quantidade de água que essa criatura bebe durante o dia.

Creio que Sportacus sofra de Hiperatividade, pois só isso explica viver daquela forma frenética, ao ritmo de uma aeróbica de altíssimo impacto. Talvez algumas doses cavalares de milk shake de chocolate com Ovomaltine possam ajudá-lo a  aprender a andar com um pé ante outro pé. Imagino também que Sportacus deva ter sérios problemas de relacionamento, visto que usa praticamente todo o tempo de sua vida fazendo alongamentos, abdominais e flexões, o que deve levá-lo a consumir uma quantidade estratosférica de barrinhas de cereais.  Convidado para um barzinho, é provável que vá pedir um  chopp sem álcool ou uma capirinha com adoçante acompanhada de uma generosa porção de rodelas de tomate, o que torna sua situação ainda mais complicada.

Temos ainda a presença de Ziggy. Esse menino vive com uma capa vermelha amarrada no pescoço e as mãos cheias de pirulitos, alguns do tamanho de sua cabeça. Ziggy não bate bem.  Ziggy é meio dã.  Ziggy  tem uma risada estranhamente dã. Talvez seja o excesso de pirulitos.

Há também o prefeito, a esposa do prefeito, o menino que vive em frente ao computador, o outro que usa uma gravatinha borboleta e a menina que anda de skate.




Opinião Pessoal e Intransferível:


1. Acho a proposta deste programa muito boa, porém, penso que essa postura politicamente correta de alimentação e vida saudável às vezes beira ao fanatismo religioso. É claro que eu acredito que incentivar as crianças a praticarem esportes e a consumirem coisas nutritivas tem seu valor, mas uma panelada de brigadeiro ou um Mac Lanche Feliz não mata ninguém. Uma infância com IMC próximo a 0%, além de sem graça, deve ser de uma chatice sem tamanho.

2. LazyTown ainda me assusta. Sportacus me cansa.

Impressão Pessoal e Investigativa:

1. Acredito que Robbie Rotten tenha alguma atração platônica por Sportacus. Talvez, até, algum caso mal resolvido.

2. Estou tentando fazer uma conexão entre a calça bailarina de Robbie Rotten e o bigodinho de Sportacus.  Tudo me leva a crer que sejam filhos bastardos de Dick Vigarista. Já perguntei para Mutley, porém, ele sempre me responde com aquela risadinha sarcástica e enigmática.

Fora do Padrão


Ao adentrar o maravilhoso mundo da maternidade, percebi que existe um certo esforço em se alcançar determinados resultados em determinados períodos. Talvez uma velada competição, ou uma espécie de corrida maluca para ver quem vai levantar o troféu de super bebê.

Não sei se é intencional, pois é natural querer filhos saudáveis, que se desenvolvam de forma notável e crescente.  Porém, tenho aprendido a duras penas que, por mais que haja padrões, cada criança tem seu tempo, sua hora, sua maneira própria de desenvolver suas habilidades. Entre alguns desses padrões, observei um que chamo de "bebê michelin", por exemplo.

Davi não é cheio de dobrinhas, fofinho, gorducho. Davi é comprido e magro. Por mais que ele coma - e ele come muito e bem - ele não vai ser o típico "bebê michelin" - talvez o protótipo de bebê saudável e perfeito, o que nem sempre corresponde a verdade.  Não foi lá muito fácil lidar com essa realidade, porém, tive que considerar que: a) ele já nasceu miúdo; b) ele ficou internado e foi operado; c) ele é cardiopata e; d) ele É ASSIM.

E aí, a gente também começa a ouvir relatos e a ler livros e revistas que contam sobre o desenvolvimento psicomotor das crianças.  "Aos X meses, a criança DEVERÁ estar fazendo isso". "Aos Y meses, a criança DEVERÁ estar fazendo aquilo". Claro, esses parâmetros não são totalmente fixos, porém, quando a criança não faz nem uma coisa nem outra no mês X ou no mês Y, é comum entrar numa ciranda doida e começar a ver tudo com um rabo de olho, tentando achar alguma coisa que esteja fora do padrão, digamos assim. E eu sei que essa neura é muito comum porque li relatos de outras mães que, assim como eu, estavam à beira de um colapso porque seus filhos estavam... hum.... fora do padrão!

Por exemplo, o Davi começou a sentar por volta dos 7 meses, quando o padrão é começar a sentar a partir dos 4.  Há relatos, porém de crianças que começam a sentar com 3 meses!  E aí, ó, começa o olhar de rabo de olho sobre o menino.... Hoje, aos 9 meses e meio, Davi já senta sozinho, mas ainda não engatinha, (não plenamente, ele vai serpenteando de um lado para o outro), porém, o padrão para começar a engatinhar é a partir dos 6 ou 7 meses. Há relatos, porém, de crianças que começam a engatinhar com 5 meses! E aí, ó, começa o olhar de rabo de olho sobre o menino....O Davi ainda não bate palminhas no "parabéns prá você".  Ele bate palmas quando está distraído, e estanca quando a gente começa a cantar "parabéns prá você".  Nesse caso, não sei se é o padrão, porém, há relatos de crianças que começam a bater palminhas no "parabéns prá você" aos 6 meses! E aí, ó, começa o olhar de rabo de olho sobre o menino.... Ufa! É ou não é uma ciranda?

E aí, dia desses,  resolvi começar a desopilar e a aceitar que ele faça as coisas no tempo dele, não no meu, nem no dos livros ou revistas, ou no que está dentro dos padrões. Claro, nunca é demais estimular as crianças, porém, eu definitivamente tenho aprendido que o meu filho não é igual ao filho de ninguém, e não seria igual nem ao irmão, caso tivesse. Também não deixo de reconhecer que padrões e parâmetros são importantes, afinal, servem como uma espécie de guia para observarmos o crescimento e desenvolvimento da criança. Porém,  repito, tenho aprendido a duras penas a não me ater a eles de forma tão sistemática e a achar que, se há alguma coisa um pouco fora do padrão é sinal de que há algum problema. Ou seja, não vou ficar procurando pelo em ovo.
Pode ser que um dia eu vá queimar minha língua e queira que meu filho viva erguendo troféus, vá saber.  Mãe é um ser esquisito e vive competindo, mesmo que veladamente.  Mas, não é prá mim gambá, não, mas o Davi, com 9 meses e meio, já está com quase 7 dentinhos...(rsrsrsrs).

Jabaculê

É tão fácil achar uma boa pediatra quanto ganhar na mega sena (alguém vai me pedir  uma definição de "boa pediatra"?).  E eu acho que essa pediatra é muito boa, pelo menos até agora.  Talvez, no início, sa gente ache que ela seja um pouco exagerada, mas depois que me acostumei não sei se  eu iria me satisfazer com o que eu acho ser uma consulta-padrão: medir, pesar e prescrever uma vitamina.  Pelo menos é essa a minha impressão baseada nas primeiras consultas em que levei o Davi.


Quando meu plano de saúde foi trocado, a primeira coisa que fiz foi marcar uma consulta com a atual pediatra, que havia sido indicada  por alguém que indicou para a minha amiga mãe-piloto, que me indicou, o que já é um bom sinal. Ou seja, a fama já vinha de longe.

Na consulta, que durou praticamente 1 hora e meia, entre as apresentações de praxe, ela analisou uma por uma TODAS as minhas ultrassonografias, o que já chamou a minha atenção.

Ela virou o Davi de trás para frente, de cima para baixo, da esquerda para a direita, enfim, se houvesse um macroscópio, ela iria utilizar, e quando ela pediu uma ultrassonografia “transfontanela”, ou seja, uma ultra da moleira do Davi, ouvi um “plim” e pensei “opa, é essa!”.  Não sei se isso é procedimento normal, porém, eu estava baseada em 3 consultas pediátricas em que esse exame não havia sido cogitado e, em se tratando de moleira, achei interessante a preocupação. Ela não somente pediu o exame, como indicou qual médico deveria realizá-lo.

Além disso, após ler todo o histórico do Davi, principalmente a cardiopatia, ela imediatamente fez um encaminhamento para o Hospital Municipal Jesus – aquele dos porquinhos na calçada - solicitando inclusão no programa de Imunológicos Especiais. 

Relatei também o caso “autismo” e ela, apesar de não chegar a me confortar, também não tratou o caso como se fosse o fim do mundo, apesar do tamanho que estava a minha cabeça desde aquela tal consulta. Fez um encaminhamento para a Drª Viviane Lanzelotte – outra fera em oftalmologia, a fim de que o tal “olhar perdido” fosse avaliado. Da mesma forma, encaminhou o Davi para as mãos de pluma do Dr. Martinelli e para a Drª Fátima, a cardiopediatra.

Ou seja, quando ela pede para fazer algum exame ou ir a algum especialista, ela já tem o lugar e a pessoa para indicar, o que facilita muito pois, no final das contas, todo mundo conhece todo mundo e se comunica entre si e acaba trocando impressões sobre o mesmo paciente.

Voltando ao final do último capítulo/tópico, durante mais de 1 mês – período da espera pela consulta a oftalmologista – fiquei algumas noites sem dormir direito e meio que olhando de rabo de olho para o Davi.  

Minha cabeça passou a ser ocupada com o seguinte questionamento: “Será que ele é autista?” “Será que ele tem autismo?” “Será que ele TAMBÉM tem autismo?” “Será que ele é autista?” “Será que ele tem autismo?” “Será que ele TAMBÉM tem autismo?” “Será que ele é autista?” “Será que ele tem autismo?” “Será que ele TAMBÉM tem autismo?”. Guerra no Iraque? Queda do dólar? Último capítulo de novela? CPI's? Nada.  Eu só pensava... "naquilo"!

Foi meio torturante (meio???). O pai, lá na brisa dele (ou talvez tentando não expressar uma possível angústia), dizia: “meu filho não tem autismo, você vai ver!” Mas claro que essas palavras não entravam muito na minha cabeça, que estava totalmente tomada pelo pensamento:

“Será que ele é autista?” “Será que ele tem autismo?” “Será que ele TAMBÉM tem autismo?” “Será que ele é autista?” “Será que ele tem autismo?” “Será que ele TAMBÉM tem autismo?” “Será que ele é autista?” “Será que ele tem autismo?” “Será que ele TAMBÉM tem autismo?”, porque a minha preocupação não era Guerra no Iraque, nem a queda do dólar, muito menos o último capítulo de novela ou como iria terminar alguma CPI. Nada.  Eu só pensava... "naquilo"!

Até que o tão esperado dia chegou. Coração na mão, parecia que aqueles minutos dos exames e estímulos de praxe foram horas e horas. Ao final, Drª Viviane solicitou que retornássemos quando ele completasse 6 meses, pois tudo estava normal, dentro dos padrões. Ela explicou que até mais ou menos uns 6 meses, os músculos oculares ainda  não estão totalmente fortes - o que explica aquele olhar esquisitão dos bebês.  Além disso,  a visão da criança começa a desanuviar, MESMO, a partir dos 6 meses e se fixa totalmente aos 4 anos. Ou seja, se seu bebezinho ainda é bem pequeno e ri quando você faz uma gracinha, não  pense que é porque ele te VÊ nitidamente, mas é o reflexo da visão ainda embaçada que ele tem e que vai clareando na medida em que ele cresce (óbvio!).

Apesar do quadro "normal" da visão do Davi, ainda assim – ai, neurose – eu  diminuí só um pouquinho o olhar de rabo de olho sobre ele, e quando ele meio que saía de órbita (sabe quando você se distrai e fica com um....“olhar perdido”?), eu o sacudia logo para ele voltar à Terra. Pobre menino!

Na consulta dos 6 meses, Drª Viviane deu completa segurança de que Davi não era autista. Mas, como toda a mente neurótica, perguntei:

- Posso me desfazer daquela "idéia", Drª?
- Claro que sim, não há problema algum.Só retorne quando ele completar 1 ano e meio, para revisão. Só isso.
- Hum....


Ouvi dizer, ou li, sei lá, que já existem algumas pesquisas que identificam o autismo a partir dos dois  meses, mesmo assim, ainda estão em fase de experimento.  A idade mais apropriada para a identificação é a partir de 2 anos e meio.  Ou seja, ainda há algum tempo, mesmo eu crendo em Deus que não há de ser nada de mais.

Como já falei anteriormente, não estou recebendo nenhum *jabá ou, como diria o saudoso Tim Maia, *jabaculê para citar os médicos que citei. Não ganho remédios nem consultas, muito menos uma “taxa de sucesso” - para usar um termo mais atual - para falar a respeito deles aqui.  Porém,  tenho realmente que reconhecer que são pessoas de alto nível profissional e de profunda sensibilidade humana e que me passam muita segurança naquilo que fazem.

Não sei se todas as pessoas que já foram atendidas por eles têm a mesma opinião que a minha - até porque acho que ninguém consegue agradar a todos - ou seja, pode ser que para outra mãe ou pai eles não sejam lá essa coca-cola toda e talvez, quem sabe, um dia, eu mesma vá procurar outros profissionais.  Mas por enquanto, eu fico tranquila em saber que o Davi está em mãos altamente profissionais e que entendem as minhas neuroses.






*Jabaculê ou jabá: dinheiro ganho/pago para fazer uma propaganda. Diz-se do artista que PAGA a uma rádio para que ela toque sua música de forma sistemática.

Oi???


Esse é curtinho....

Nesse meu périplo com o menino Davi, tenho tido algumas fortes emoções.  Às vezes fortes até demais e não tivesse eu um coração possante, bem provável que seria mais um ilustre membro do clube dos cardíacos.

Antes de conhecer a atual pediatra ( até porque ela não atendia com o plano que eu tinha à época), fomos a um profissional para uma primeira consulta. Foi quando descobri que Davi tinha língua presa e também quando foram esclarecidas algumas dúvidas a respeito da hipospadia.  A consulta foi mais no desespero pois, como Davi nasceu no final de dezembro e a primeira consulta deveria ser 15 dias depois, não havia muitas opções de pediatra, e nem consegui falar com aquele que havia acompanhado o parto.  Enfim, encontrei um que atenderia na primeira semana de janeiro.

Consultório cheio, claro, não somente pelas crianças que já eram pacientes como por umas outras duas mães e seus recém-nascidos.  Na sua vez, Davi foi medido, pesado - eu esqueci de levar a Caderneta de Vacinas (não sabia que era para levar nas consultas pediátricas, veja só!) e recomendada uma vitamina básica.  Voltamos ainda outra vez, 15 dias depois e remarcamos a próxima consulta para o mês seguinte.

Nessa ocasião - Davi já tinha uns 2 meses ou quase -, ao final da consulta, eis que vira a pessoa, faz uma cara de jiló e diz:

- Vou encaminhar para um exame oftalmológico.

- Por que?

- Para ver como está a atenção, o olhar dele.  Ele parece estar com um olhar meio perdido...

- Mas, perdido como, Dr.(a)?

- Perdido, não fixa em lugar algum.

- Não será por que ele ainda está um pouco novinho? Ele também acabou de acordar. (O Davi estava dormindo e tinha sido acordado, então, além de estar gritando a plenos pulmões, estava com aquele olhar de quem tinha acabado de acordar e não sabia onde estava).

- Não sei, vamos ver.  Mas parece que o olhar dele está meio perdido...

- Sim, mas o que pode significar esse “meio perdido”?

- Pode ser que seja autismo!

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- Oi???


(Me diz se não dá para ficar meio neurótica?)

De Perto Ninguém é Normal!


A essas alturas você, leitor e/ou leitora, caso ainda esteja por aqui, deve estar pensando: o Davi foi mal feito, ou a Luciana está de dramalhão.  Não, ele foi muito bem feito, só foi um pouco mal acabado. E eu não estou de dramalhão, apesar de tudo.

Confesso que às vezes bate um certo cansaço, culpa, e tristeza e, SIM, já chorei pacas.  E ainda choro de vez em quando. Ou seja, dá fiz meu dramalhão, já dei muitos pitis.  Mas o Davi é um bebê tão ativo, tão sapeca, - e está ficando tão malcriado - , que às vezes não dá para imaginar que ele já tenha algumas boas histórias nesses longos 9 meses de vida.

Boas?  Acho que sim, porque, apesar dos últimos 10 meses terem sido uma viagem ininterrupta nessa montanha russa, algumas coisas estão se resolvendo, graças a Deus, apesar de ainda faltarem alguns outros ajustes.

Eu ainda não sei o que é passar 1 mês inteiro sem ir a um especialista que não seja apenas a pediatra. Ou são exames, ou consultas, ou consultas & exames, ou consultas para levar exames.

Hemogramas já são uns 6 até agora, que eu me lembre, entre algumas radiografias e ultrassonografias.  O Davi está tão apavorado em deitar numa maca que é só colocá-lo sentado e ele começa a chorar, a berrar mesmo, com todas as forças.

Sem falar nas vacinas. Além do calendário básico, que vem naquela caderneta que a gente ganha na maternidade, ainda tem o calendário do Hospital Jesus e a tal vacina super cara que é aplicada na UPA.  E nesse ponto, eu me sinto mais ainda abençoada.

Por ser cardiopata congênito, Davi foi encaminhado pela pediatra para o CRIE, Centro de Referência para Imunológicos Especiais, no Hospital Municipal Jesus, em Vila Isabel.

Através do CRIE, o Hospital Municipal Jesus atende crianças (e acho que adultos também) portadoras de doenças das mais variadas, congênitas ou não, e que necessitam de vacinas que estão fora do calendário básico.  São aquelas famosas vacinas que os pediatras de ambulatório oferecem ou indicam, e que são pagas. E que geralmente são caras, porque vacina não é uma aplicação só, dependendo de qual seja, podem ser 3 ou mais doses. E aí, o custo total é bem alto.

Para ser atendida pelo CRIE, a criança tem que ser encaminhada pelo médico, particular ou não, e enquadrada em determinados critérios que são analisados pelo médico responsável em receber os encaminhamentos.

Davi foi enquadrado em 2 vacinas: a PNEUMO 7, ou Prevenar, e a INFLUENZA A. Na primeira são necessárias 3 doses.  Na segunda, 2.  Na última ida ao Hospital, Davi tomou a 1ª dose da Influenza e da H1N1, pois, no caso desta última, ele ainda não tinha 6 meses na época da Campanha.  Todas essas vacinas deverão ser repetidas a partir de 1 ano e 3 meses e espero que pelo menos umas 2 delas já estejam no calendário básico.  Por que?  Porque, no dia marcado para ir ao Hospital Jesus, minha caravana chega lá às 5 horas da manhã!

Em se tratando de um departamento especializado, o CRIE atende crianças vindas dos mais variados recônditos do Estado: do ilustre, bucólico e charmoso bairro do Campinho, mas também de Saracuruna, Nova Iguaçu, Campos, Itaguaí. E se eu acho que acordar às 4 da manhã é cedo, para chegar lá e ser uma das primeiras a pegar as senhas que são distribuídas a partir das 7 horas, fico imaginando quem vem de mais longe, a que horas que acorda.  Algumas crianças são levadas pelas ambulâncias ou carros das prefeituras de suas cidades.  Esses casos geralmente são mais delicados e um tanto assustadores.

A outra vacina é a tal PALIVIZUMABE.  Sim, esse palavrão foi repetido tantas vezes que agora me sai pela boca como se fosse um bocejo.  Aos 4 meses, Davi foi internado com  um quadro de bronquiolite, pneumonia e também um pouco de atelectasia. Em comum acordo com a pediatra, a Drª Maria de Fátima – a cardiopediatra – indicou o Davi para essa vacina, que é para a prevenção (não tratamento) da bronquiolite (aliás, essa é a mais nova sensação do rol de doencinhas entre as crianças ultimamente).


Para obter essa vacina, além de atender a alguns critérios especiais, há todo um processo que tem que ser enviado à Secretaria Estadual de Saúde e o tempo médio, no caso do Davi, foi em torno de quase 2 meses (em algumas cidades, muita gente só conseguiu depois de entrar na Justiça!).  Cada dose da vacina é cara, muito cara, muito cara mesmo (não estou exagerando nem esnobando, não. Ela é cara mesmo, por isso que eu vejo que é mais uma bênção de Deus, porque eu não tenho a menor condição de pagar por ela). São 5 doses que devem ser aplicadas entre abril e agosto, período da sazonalidade da bronquiolite.  Depois que o processo é autorizado, a criança tem que ser levada à UPA – no caso aqui do RJ - mais próxima da sua residência, em dia e horário devidamente agendados, para a aplicação.  Antes de ser vacinada, a criança é pesada para que a enfermeira aplique a quantidade certa referente ao peso da criança.

Voltando ao Hospital Municipal Jesus, dou uma dica: se algum dia a sua criança for encaminhada para o CRIE de lá, e se você for de carro, suba a rua devagar, pois há um pequeno grupo de porquinhos que descem do Morro dos Macacos para tomar café bem cedo.  Eles ficam perambulando nas calçadas e também no meio da rua, como se não houvesse amanhã.  Dão uma pequena volta em frente ao Corpo de Bombeiros e à padaria, passam na banca de jornal para ler as primeiras notícias do dia e retornam ao lar um pouco antes das 6 horas.  Mas atenção: nem pense em querer capturar algum deles  para saborear na sua ceia natalina ou naquele escondidinho de aipim! Bem provável que você leve uma saraivada de fuzil!!!

Atualização:

 (A partir de hoje, crianças menores de dois anos poderão receber as vacinas contra meningite C e pneumonia gratuitamente em postos de saúde dos 92 municípios fluminenses. As vacinas foram incluídas no calendário básico de vacinação pelo Ministério da Saúde. 
A vacina Pneumocócica 10-valente é feita em quatro etapas: no 3º, no 5º e no 7º mês de vida do bebê, mais um reforço no 12º mês da criança. Já a vacina conjugada contra meningococo C terá três doses: no 3º e no 5º mês de vida e a terceira no 15º mês de vida.
Com as vacinas, além de se prevenirem das duas doenças, as crianças estarão imunizadas contra mais de dez tipos de problemas, entre eles septicemia, artrite, sinusite e otite média aguda.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, as vacinas não causam reações adversas graves. Além disso, o órgão ressaltou que não se trata de uma campanha, mas sim vacinação de rotina para todas as crianças - como já acontece com outros imunizantes. Por isso, não é preciso nenhuma corrida aos postos de saúde: os novos imunizantes estarão disponíveis durante todo o ano e não apenas em épocas de surgimento de surtos, como as vezes acontece.
Bactéria mata
De acordo com o Ministério da Saúde, o pneumococo é a segunda maior causa de meningites bacterianas no Brasil. A bactéria causa por ano, em média, cerca de 1,25 mil casos de meningite pneumocócica, além de 370 óbitos no País. O pneumococo também é o principal agente causador de pneumonias em todas as faixas etárias.

Fonte:http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI4716219-EI238,00-RJ+vacinas+contra+meningite+C+e+pneumonia+estao+disponiveis.html)

H.I.

A cirurgia das hérnias do Davi foi um sucesso.  Chegamos na Pronto Baby em torno das 12 horas e ele foi internado às 14.  Às 16 horas, Dr. Martinelli, juntamente com o anestesista, Dr. Flavio, nos chamou numa ante-sala do centro cirúrgico e nos passou as últimas instruções.  Em determinado momento, Dr. Flavio começou a brincar com o Davi, o pegou no colo e o levou. De dentro de uma sala, creio que o centro cirúrgico, ouço um UAAAAuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa..... e depois um silêncio total.  Talvez tenha sido a hora da anestesia.

Geralmente, quem é portador de Hipospadia tem também Hérnia Inguinal ou H.I. – que é outra sigla inventada por mim, afinal, esse é um blog Ultra Top, Mega Hipe, Super Fashion.

Quando a gente adentra determinado universo, acaba absorvendo alguns conhecimentos que até se fazem necessários para entender todo um processo  ou situação.  Porém, para ser mais precisa, vou colocar uma explicação do que seja H.I. que encontrei no deus Google:

2 - O que causa esta Hérnia inguinal ?
 
Vou explicar primeiro o que ocorre nos meninos porque é mais freqüente, e mais fácil de entender!
Durante a gravidez, na formação intra-uterina dos genitais masculinos os testículos são formadas dentro do abdome ("barriga") da criança, e eles vão descendo até que no 7º ou 8º mês forma-se um "túnel", um "canal" na musculatura inguinal ("virilha"), pelo qual os testículos descem até a bolsa escrotal. Este canal deve cicatrizar e desaparecer até o nascimento, e se isto não ocorrer permanece aberto um canal, um túnel por onde podem sair de dentro do abdome os intestinos em direção ao escroto.

Nas meninas este "túnel" se forma para permitir a passagem do ligamento redondo (um dos mecanismos de fixação do útero) em direção aos grandes lábios.

3 - Porque a hérnia inguinal precisa ser operada ?
 
A cirurgia é necessária porque :
- Não existe a possibilidade de fechamento espontâneo deste túnel. 
- A permanência do intestino dentro deste canal causa desconforto, impede a prática de esporte nas crianças maiores, e prejudica a longo prazo o desenvolvimento do testículo. - Principalmente pelo risco de encarceramento e estrangulamento da hérnia!

Em momento algum Davi apresentou qualquer abaulamento, nem quando chorava, ou tossia, ou fazia algum esforço, porém, a suspeita da presença das hérnias surgiu numa consulta ao primeiro cirurgião pediatra que iria tratar da Hipospadia.  Para se certificar, ele pediu uma ultrassonografia, que acusou o não fechamento do canal inguinal, o que determinou a necessidade de cirurgia.  Como o resultado do hemograma pré-operatório mostrou que os hematócritos estavam abaixo do normal, ou seja, anemia, a cirurgia foi suspensa e Davi só foi operado depois de quase 2 meses.

Em consulta ao Dr. Martinelli, e como havia alguns outros “consertos” a serem feitos, o médico sinalizou a possibilidade de operar tudo de uma vez, fazer uma espécie de barba-cabelo-e-bigode de 5 procedimentos. Ótimo, pois quanto menos anestesia, centro cirúrgico e internação, melhor, não é?  Portanto, Davi operou as 2 hérnias – direita e esquerda, o primeiro tempo da hipospadia, o freio lingual (ele nasceu com a língua plesa, ia ficar falando igual ao Cebolinha) e a Orquidopexia, que é a colocação do testículo esquerdo no saquinho pois, apesar de ter sido mãe bem tarde, eu ainda quero ter netos!

A cirurgia durou em torno de 1 hora e meia, bem rápida, não? Nesse meio tempo, sabe o que eu fiz?  Palavras cruzadas, meu mais novo-velho vício. Eu ia fazer o que? Começar a espernear? Tentar invadir o centro cirúrgico gritando "me deixa ir junto, me deixa ir junto", "me larga, me larga" igual a enterro de pobre? Não, né. Segurei a onda numa boa, tanto que, quando o Dr. Flavio trouxe o Davi para o quarto e me perguntou: "Mãe, você está nervosa?", dei uma de Scarlett Ohara e respondi: "Depois eu penso nisso". E realmente não fiquei nervosa, aflita, sim, mas  não naquele momento, só depois, beeeeeem depois.

A alta foi à noite e Davi passou 1 semana tomando quatro banhos por dia, sendo dois de “assento” - coisa antiga, heim?  No dia seguinte à cirurgia, parecia que ele nem havia passado por tudo aquilo. Rolava de um lado para o outro, só mostrava sentir dor quando eu fazia os curativos.  As duas incisões laterais pareciam duas linhas fininhas, como se ele tivesse sido arranhado.  Na medida em que ele cresce, essas cicatrizes irão diminuir e ficar imperceptíveis.  Crédito dele, que tem uma saúde de ferro, e do Dr. Martinelli, que tem  mãos de pluma.