Davi, 6 anos!



Você é assim

Um sonho prá mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor...

E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância...

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...


(Velha Infância - Tribalistas)


Ontem Davi completou 6 anos de idade.  Como o meu computador parou totalmente, faço o post agora.  

Como dito no post passado, irá para o 1º Ano Escolar.  Por esses dias, fomos à dentista, que apontou 3 dentes moles, e também à oftalmologista, que fez exame completo e nos disse que Davi está excelente, tendo que retornar somente daqui a 2 anos.

É meio chover no molhado, mas tudo passa muito rápido, pois que outro dia estávamos na correria com médicos, cirurgias, tratamentos, exames....em de repente, as coisas começam a se acalmar, a entrar numa normalidade que achei que não iria chegar.

Davi é uma bênção para a minha vida.   Ele me complementa em tudo, a fonte de minhas inspirações, a razão para eu continuar insistindo em algumas coisas boas.  Ele me deu um norte na vida.

Eu sei que não posso colocar expectativas sobre ele, mas tento fazer o normal de toda a mãe, e quero que ele tenha vida plena, saúde física, mental e emocional, que cresça e se torne um homem de bem.

É muito interessante ver a transformação daquele bebezinho num menino cheio de palavras e gestos, com raciocínio e conclusões que nos deixam de cara caída.  Talvez o espanto seja porque a gente, mãe, fica tentando prender o tempo para que ele passe o mais lento possível, na esperança de termos nossa criança um pouco mais conosco.  Mas o tempo... ele passa e nos ensina que ele não se prende a ninguém e que ninguém deve se prender a ele, mas vivê-lo com toda a intensidade.

Feliz aniversário, meu filho, e que Deus nos dê saúde para vê-lo crescido, firme e forte e preparado para a vida.

A Formatura

Formatura do Pré II. Um rito de passagem que, por mais simples que seja, deve ser marcado e festejado.

Eu não tive nada disso, na verdade, eu entrei na escola já direto para a antiga 1ª Série do antigo Primário.  Tinha 7 anos.  Antes disso, minha mãe, a muito custo, pagou uma explicadora que me iniciou nas primeiras letras.  Nas brumas da minha quase apagada memória de infância, meu primeiro livro didático tinha um menino que se chamava "Beto" e uma menina que não me lembro o nome.  Depois, veio O Sonho de Talita e depois os outros que já não marcaram tanto assim.


Estudei a vida inteira em escola pública, numa época em que ela era tão boa quanto uma escola particular. As professoras, no geral, eram da geração formada no tradicional e cobiçado Instituto de Educação.  Com a grande influência da Ditadura, havia uma forte disciplina nos comportamentos, tanto do professor quanto dos alunos, desde o uniforme até às matérias, como, por exemplo, "Educação, Moral e Cívica" e os "Estudos Sociais".



A escola, no geral, era boa. Meu "Primário (1ª a 4ª séries)" se deu na Escola Municipal Presidente José Linhares, mesma escola onde minha mãe trabalhou como merendeira por mais de 20 anos.  Esta escola fica na zona sul do Rio de Janeiro, ao pé do Morro do Cantagalo e, por esta razão, recebia muitos alunos carentes.  Sim, já naquela época havia crianças que só iam para a escola porque tinham na merenda e nos lanches a refeição do dia. Filhos de domésticas, porteiros, faxineiras, diaristas, alcoólatras, pais disfuncionais, a escola acolhia essa classe de crianças, muitas sem perspectivas futuras.  Mas a diretora era brava, uma verdadeira "sargentona" dos anos 50.


Daquelas turmas, pouquíssimos levaram os estudos adiante, muitos tragados pelas dificuldades da vida, pela falta de oportunidades.  Alguns se perderam nos vícios e na deliquência, perdendo, também, a vida.


Eu sou uma sobrevivente, pelo menos é assim que me sinto, porque não foi fácil.  Não me canso de repetir que Davi é um privilegiado.  Sim, com todas as nossas limitações financeiras, esse menino tem muito e mais do que seus pais tiveram na sua idade.  Não falo apenas de bens materiais ou de uma escola de boa qualidade: falo de família.  Eu tenho plena certeza de que Davi tem uma família que eu e seu pai gostaríamos de ter tido, pois com todos os defeitos, nos mantemos unidos, em amor, tentando dar a ele um equilíbrio emocional e afetivo que servirão para embasar sua auto-estima numa plataforma forte.


Dois dias antes da Formatura a turminha do Davi acampou na escola.  Nos dias que se antecederam, Davi estava muito inseguro, choramingando que não queria dormir fora de casa.  Fomos conversando e mostrando que seria muito bom ele passar por essa experiência de dividir a noite numa farra com seus coleguinhas de escola.  Quando retornamos à escola, à noite, e que ele viu as crianças, não deu outra, se despediu e se jogou.  E claro, eu não dormi direito.  Como nem a polícia, nem o bombeiro, nem qualquer pessoa da escola ligou durante a noite, concluí que haviam passado muito bem, mas fiquei um bagaço durante o dia seguinte inteiro.

A Cerimônia de Formatura foi a primeira ocasião em que eu chorei - e só de escrever dá vontade de chorar.  Não sei o motivo, mas fiquei muito emocionada.  Foi tudo muito simples, até porque a escola e a turma são pequenas.  Na verdade, foi um chororô enorme: todas as tias, pais, mães, parentes, enfim, acho que todo mundo chorou.  É um marco, uma passagem de tempo importante na vida de todo mundo.  Davi está nessa escola desde seus 5 meses e mês que vem completará 6 anos, ou seja, é praticamente a vida toda ali dentro.


Nosso desejo era colocá-lo numa escola maior, para que ele pudesse ir já se acostumando com tudo maior: escola, crianças, turma, enfim.  Mas as condições financeiras, somadas às incertezas dos dias atuais nos impediram neste momento.  Ficará para o próximo ano, quando ele for para o 2º Ano Escolar.

No mais, estou profundamente alegre e eternamente agradecida a Deus pela fidelidade Dele conosco, por nos dar livramentos e condições para criar o Davi.

No mais, que venha o 1º Ano!!!


* Poucas fotos porque filmamos mais que fotografamos.  E aí, as pilhas da câmera e a memória do celular acabaram!