Nem 40 Minutos

Se até ontem eu tinha uns 40 minutos na parte da manhã para ficar com Davi, agora não tenho mais.  Consegui encontrar alguém para levá-lo para a creche, de forma que eu não perca tanto tempo no trânsito.

Foi uma escolha um pouco difícil, pois ao mesmo tempo em que eu queria ficar um pouquinho que fosse com ele na parte da manhã, eu já venho enfrentando grandes problemas no trânsito por conta da obra da Transcarioca, que deixa o fluxo de veículos parado já bem cedo na avenida principal.  É um tormento que só quem precisa passar por ali é que sabe: todos-os-dias o trânsito está complicado, pois a obra é imensa e parece que só vai terminar daqui a 1 ano e meio.  Ou 2.  

Vou sair mais cedo ainda, e Davi não irá me ver, assim como também não vê o pai sair.  Sua avó irá acordá-lo e prepará-lo para ir à creche.  O bom disso é que a pessoa que faz o transporte , a Diana, deixou que eles fossem juntos, até porque ela tem poucas crianças no horário.

Não é muito fácil encontrar serviço de transporte escolar e no meu caso, acredito que tenha sido uma bênção de Deus, porque a Diana faz o transporte dos filhos dos meus vizinhos e os conhece há algum tempo, ou seja, não é uma desconhecida.  Além disso, muita gente já está com sua cota de crianças fechada e outras, como o coleguinha de escola do Davi, não querem ter mais uma criança de horário integral, porque sabem que elas não têm férias, o transporte é o ano inteiro.

No momento em que consegui a Diana fiquei muito feliz, mas depois, ao longo do dia, me bateu uma tristeza, coração ficou bem pequenininho, sabe.  É contraditório, eu sei, porque o que eu queria mesmo era levar o Davi para a creche, mas optei pelo transporte só por causa das dificuldades que tenho passado para chegar no trabalho.

O engraçado é que estou sentindo muito mais agora do que na primeira vez quando Davi entrou na creche, e ele tinha só 1 ano de idade.  Como ele só ia na parte da tarde e  quando eu saía de casa e ele já estava acordado, eu tinha um tempinho para ficar junto com ele.  Talvez seja isso, porque agora acho que vou deixá-lo dormindo.  Para mim já está sendo difícil desde agora, mas só posso encarar como essas coisas da vida moderna.  Talvez mais adiante, quando a tal da obra terminar e alargar as pistas, o trânsito fique melhor e eu volte a levá-lo novamente.  

Mas no fundo eu estou bem tristinha, porque é cada vez menos tempo com o meu moleque.




Como eu citei no post anterior, veja como já estava o forninho.  Tentei fazer umas figuras com a fita crepe, mas na hora de pintar acabou borrando um pouco.  Achei que esse forninho ficou bem com a cara daquelas kombis hippies anos 70.  Se bem que, pela idade que tem, acho que ele deve ter sido hippie também.





Mó Bicho-Grilo!


Ah, e as bananas da terra, lembra?  Pois é, depois de mais de 2 semanas elas ficaram assim:



E depois de mais uma semana, fizeram a felicidade geral da galera. 

Delícia, delícia, assim você me mata!



Carnaval e Craftices

Já que havia recusado todos os convites para ser rainha da bateria de todas as escolas de samba do Rio de Janeiro (oi?), aproveitei esse feriadãozão para curtir a casa e o filhote.

Feriado de carnaval é bem interessante.  Acho que só existe aqui no Brasil mesmo, porque ficar praticamente 1 semana em função da diversão ou do descanso não é muito comum por aí.  Não sei se foi por conta do meu cansaço, mas eu concluí que, apesar de muita gente considerar vergonhoso, esse período talvez sirva para renovarmos as energias, já que vamos trabalhar 5 meses do ano só para pagarmos impostos. 

E para quem trabalha fora, esse período serve também para ver a quantas andam a convivência com os filhos.  Ficar 6 dias inteiros com Davi foi muito cansativo, porque ele está nessa fase de querer total atenção, cheio de manhas, muito teimoso e dá chilique por qualquer coisa.  Ou seja, não precisei sair em nenhum bloco de carnaval porque o menino me fez rebolar na (falta) de paciência.  Olha, vou dizer:  o guri pintou e bordou! Sim, porque ficar todo esse tempo com pai e mãe o dia inteiro fez com que ele se sentisse o verdadeiro pinto no lixo. 

Apesar do baile que Davi nos deu, conseguimos aproveitar bastante esses dias. Levamos o pequeno para brincar um pouco na rua, principalmente para ver o movimento carnavalístico na Intendente Magalhães, que fica pertinho de casa e que é uma avenida onde desfilam as escolas do grupo C, D e E.  É isso mesmo! As escolas beeeeem pequenas, às vezes com 1 só carro, mas nem por isso menos interessantes. O desfile na Intendente é muito organizado, eu diria que é uma Marquês de Sapucaí em miniatura.  A diferença é que o clima é bem família, com crianças brincando na mesma pista onde as escolas passam - antes ou depois que passam, claro! É muito seguro e limpo, pois há guardas municipais, policiais e garis por todos os lados. 

Fica a dica: se você não é chegada a tumulto, como eu, e quer levar sua criança para brincar um pouquinho o carnaval, vá para a Intendente! Leve uma cadeira de praia, uma bolsa térmica com algumas bebidinhas e vá curtir com sua família os desfiles da Boca de Siri, Arame de Ricardo, Vizinha Faladeira, Arrastão de Cascadura, Favo de Acari, entre outras.  Só que os desfiles começam à noite, e como Davi é tão matinê quanto eu, ficamos pouco tempo, umas 2 horas por lá  e apesar de ser bem enjoado, ele curtiu bastante.  Quando a pista ficava só com crianças, ele saía disparado, nem sabia para qual lado correr. 

Aproveitei também para começar a fazer algumas craftices, que quando ficarem prontas irei mostrar aqui (agora eu tô mais assanhadinha com a Internet).  Comecei algumas coisas mas não deram muito certo, e o que eu consegui fazer foi pintar o microondas.  Já havia pintado o forninho e o microondas teve que esperar um pouco, porque estou tentando dar um tapa naquela cozinha sem sal.

Veja como era e como ficou (a varanda serve de ateliê e/ou oficina, ok?)



Veja que as partes de plástico já estavam amareladas


Tá tudo verde!


Lado A

Lado B

Eu não pintei a parte de trás porque fiquei com medo de a tinta entrar nas saídas de ar e danificar o funcionamento. Outra coisa que descobri foi: se a tinta pegar na parte do vidro é só passar acetona - a do esmalte mesmo - que sai.



Ah, sim, eu tentei tirar fotos do folião, mas todas as vezes que eu pedia, Davi virava o rosto ou fazia uma careta.  Não teve uma foto legal!


Portanto, voltamos à programação normal e feliz 2012, já que o ano começa mesmo é depois do carnaval, né!


Whitney


Era o começo dos anos 1990, com muito cabelo frisado - o famoso "permanente afro" -, muito scarpin branco, batons ultravermelhos e as malditas ombreiras. Final da adolescência, eu curtia ainda muito U2, Madonna, Queen, The Cure, Simple Minds e Paralamas, além dos já famosos cantores do R&B americanos: Barry White, Diana Ross, Marvin Gaye, James Ingram e Michael Jackson, entre outros.


Mas não me dei conta do aparecimento de Whitney Houston e quando isso aconteceu, não dei muita bola.  Do alto do meu afinadíssimo conhecimento musical (só que ao contrário), achava que ela gritava muito.  Não me atentei para sua performance, para sua capacidade de "brincar" com a voz que tinha.  E quando meus ouvidos se abriram para sua voz, tentei recuperar  o tempo perdido em não admirar seu talento e seu trabalho. Ainda bem que consegui.


Uma vez, minha mãe disse: os cantores, quando morressem, bem que poderiam deixar a voz, passá-la para outra pessoa.  Mas cantar, cantar mesmo, ser uma Whitney, uma Elis Regina, uma Aretha, um Sinatra, não é para qualquer um, todo mundo sabe.  Cantar não é um privilégio, uma técnica, um conhecimento musical.


Cantar é um dom.  E dons vêm de Deus, que os distribui de uma forma misteriosa, pois contempla pessoas tão imperfeitas quanto eu, que não canto nem no chuveiro.  Mas essas pessoas são tão divinamente dotadas que são únicas, não há backup, sobressalente, substituição.  E quando se vão, o vazio que deixam não é preenchido nunca amais.


Às vezes esses talentos não se dão conta da dádiva recebida, nem percebem que passam a fazer parte da história de muita gente, e eu sei que Whitney fez parte de muitas histórias, até mesmo da minha.  De maneira tímida, mas ela esteve lá, com sua voz, seu talento, sua dádiva.
Não fui grande fã de Whitney, mas vou sentir muito a sua falta, porque não haverá outra Whitney Houston.


Que ela descanse nos braços do Senhor.


Expectativas, Frustrações, Erros e Algumas Verdades

Frustração: Estado daquele que, pela ausência de um objeto ou por um obstáculo externo ou interno, é privado da satisfação dum desejo ou duma necessidade. 

Expectativa: Esperança fundada em supostos direitos, probabilidades ou promessas

Não me lembro de outro dia que eu tenha me sentido mais frustrada como mãe do que no fim de semana passado.  Eu estava naquele típico "dia do saco cheio", muito sem paciência, e atacada.  E como eu já comentei neste post, o Davi parece que sente minha alteração emocional, e aí fica mais malcriado e eu, mais irritada, e ele, mais alterado ainda e eu, mais sem paciência, e ele..... bom, ele é uma criança, e eu sou sua mãe, que deveria (quem disse isso?) ser emocionalmente equilibrada e não me deixar levar pelo cansaço e pela frustração e sair do controle da situação.

E acho que é aí que está o problema: quando a gente não consegue ter o controle sobre as coisas - como se realmente tivéssemos, né.  No meu caso, a sensação de que tudo está escorrendo pelas mãos me traz muita irritação.  

Mas, Luciana, do que você está falando especificamente?  

De como criar uma pessoa, de como ter sabedoria para lidar com uma pessoa - uma criança de 2 anos - que já enfrenta seus pais, que desafia nossa paciência e autocontrole.

Me sinto frustrada porque às vezes eu acho que não estou sendo eficiente em educar o Davi. Me sinto frustrada porque às vezes - muitas vezes - eu coloco as obrigações domésticas antes da atenção que tenho que dispensar para meu filho e quando ele vem reivindicar seu direito à minha atenção, me encontra sempre assoberbada de coisas a fazer.  E aí, eu paro tudo para dar-lhe a devida atenção, mas nunca é suficiente, pois o nosso ritmo diário não deixa muito espaço para a gente ficar juntos.  E nessas paradas, as coisas vão se acumulando, e o tempo vai passando e eu não consigo fazer o que tenho que fazer, inclusive dar mais atenção com qualidade a ele. E aí, começo a formigar de agonia.

Sim, é ansiedade, é querer ter o mesmo ritmo que tinha antes de Davi existir. Mas a realidade é outra, e lidar com ela às vezes é frustrante, porque às vezes também a gente tem que abrir mão dos próprios interesses para atender a uma pessoinha que quer nossa total atenção, e essa pessoinha não tem culpa de nada, faz parte das suas necessidades receber toda a atenção devida, afinal, como eu já falei, nosso tempo de convivência é curto.

E Davi vem dando trabalho também.  Acho que algumas coisas ele traz da creche e outras devem ser por conta dessa fase da vida dele. Quando contrariado, dá chiliques homéricos, muitas vezes não obedece, mesmo que eu aplique os "truques da Supernanny" - "abaixe até a altura da criança, faça contato visual e fale em tom sério e baixo".

Mas na prática a teoria é outra (eu já usei essa frase por aqui...).  Porque chega num ponto em que a gente não abaixa, não faz contato visual e não fala em tom sério. Nem baixo. E fica parecendo aquilo de que eu tanto detestei: uma casa de malucos, onde a gente grita com a criança que, por sua vez, reage a essa nossa postura e parece que o caos se instala.

Mas sabe qual é a verdade, de verdade? A gente acaba jogando sobre os filhos as nossas frustrações, como se eles tivessem culpa disso. E isso não pode acontecer, quer dizer, pode até acontecer vez ou outra, afinal, não somos perfeitas.  O que não pode é virar rotina, fazer parte da convivência.

Essa é a verdade, que eu prefiro admitir a ter que ficar floreando as coisas.

Nem sempre é possível controlar as coisas, e às vezes eu acho que o filho vem na nossa vida exatamente para mostrar os nossos limites e aquilo que somos capazes de fazer e não sabemos, ou até sabemos mas não admitimos porque achamos que estamos preparadas para tudo. Ou que somos muito boazinhas.

O problema também é que a frustração é fruto de uma expectativa muito alta que criamos a respeito dos nossos interesses.  É tão fácil criar os filhos dos outros, por exemplo.  É difícil acreditar ou aceitar que aquela doce criancinha é capaz de te tirar do sério e fazer você sentir raiva até. E parece que aquele quadro mental da "família doriana" que a gente cria até mesmo durante a gravidez começa a derreter suas tintas e fica tudo borrado pela realidade.

Acho que quase tudo que estou colocando já foi falado por aqui e que o texto está bem enrolado.  Mas esse enrolado é o reflexo do que está na minha cabeça e a minha frustração de achar que estou falhando como mãe. Mesmo sabendo que não é fácil criar uma pessoa, fico me cobrando e pensando que se eu tenho que tomar algumas atitudes mais rudes é porque alguma coisa não está funcionando.  E isso é bem frustrante, porque a gente acaba agindo e reagindo do jeito que sabe que não é o certo.

Muitas vezes o problema não está na criança e sim na gente, talvez porque a gente caia na ilusão de achar que vai ser supermãe, assim como aquelas que aparecem nas revistas, lindas, radiantes, trabalhadas na escova e no clareamento dental, com seus filhos bem comportados e arrumados.

Eu sei que essa é apenas uma das várias fases que irei experimentar, e em muitas delas o que vai restar é um gostinho de frustração.

Mas, fazer o que? Talvez seja assim só para a gente se certificar de que não é perfeita, nem tem superpoderes.  Somos mães. Mas antes disso, somos humanas, o que significa sermos também cheias de defeitos.  O que espero é ter sempre em mente que estou errando querendo acertar,  tentar tirar proveito até das frustrações e baixar um pouco o nível das expectativas.

Com ou sem clareamento dental.

Crianças Infelizes

Matéria da Revista Veja, aqui, que trata um pouco sobre o que também foi abordado no livro Sob Pressão e que eu também já falei um pouquinho aqui .

Por que as crianças estão cada vez mais infelizes?

Especialistas em saúde infantil chamam a atenção para uma epidemia silenciosa que afeta a saúde mental das crianças que, ainda pequenas, precisam lidar com as pressões da sociedade moderna.

Natalia Cuminale


Uma em cada onze crianças com mais de oito anos de idade está infeliz, segundo um estudo divulgado em janeiro deste ano pela Children’s Society, organização centenária de proteção infantil. Apesar de a pesquisa trazer à tona uma realidade das crianças entre 8 e 16 anos do Reino Unido, especialistas brasileiros em saúde infantil afirmam que esse não é um problema exclusivo das crianças britânicas. No Brasil, a realidade é parecida. Ana Maria Escobar, pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, em São Paulo, conduziu uma pesquisa com os pais de cerca de 900 crianças de 5 a 9 anos que estudavam em escolas particulares e estaduais.

De acordo com os resultados do estudo, os pais disseram que 22,7% das crianças apresentavam ansiedade; 25,9% tinham problemas de atenção e 21,7% problemas de comportamento. "No início do estudo, esperava encontrar queixas como asma, mas não ansiedade", diz Ana. Apenas 8% tinham problemas respiratórios e 6,9% eram portadoras de asma. O estudo foi concluído em 2005, mas Ana Maria acredita que se a pesquisa fosse feita hoje, "os níveis de ansiedade e de problemas de comportamento certamente seriam ainda mais altos."

Mais do que infelizes, as crianças brasileiras também estão ansiosas, estressadas, deprimidas e sobrecarregadas. "Elas estão desconfortáveis com a infância. Esse desconforto aparece de várias formas: como irritabilidade, desatenção, tristeza e falta de ânimo. Muitas vezes, é um comportamento incomum em relação à idade delas", diz Ivete Gattás, coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Saul Cypel, membro do departamento de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria, traz dados preocupantes: "A impressão que eu tenho é a de que o número de crianças com queixas comportamentais cresceu muito nesses últimos dez anos." Neste período, segundo Cypel, houve uma transformação do perfil da clínica: se antes as queixas sobre o comportamento infantil correspondiam a 20% dos pacientes, agora são responsáveis por 85% do total de seu consultório de neurologia.

Com uma agenda recheada de atividades extracurriculares, que vão desde aulas de idiomas como inglês e mandarim até as aulas clássicas como balé e futebol, as crianças estão sem tempo para se divertir e descansar, acreditam os médicos. Segundo Cypel, a antecipação de atividades para as quais o indivíduo não está preparado pode desencadear o stress tóxico, que ocorre quando há uma estimulação constante do sistema de resposta ao stress (veja quadro abaixo), trazendo prejuízos futuros para as crianças.

"A família introduz uma série de treinamentos, atividades e línguas novas. Na medida em que a criança não consegue dar conta disso, a sensação de fracasso se torna frequente", explica Cypel. "Com o stress tóxico, ao invés de favorecer o desenvolvimento da criança, os pais acabam limitando-a e desmotivando-a." Entre as consequências diretas estão a diminuição da autoestima, alterações alimentares (excesso ou falta de apetite), problemas de sono e apatia.

No início deste ano, a Academia Americana de Pediatria lançou um documento que chama a atenção para as evidências de impactos negativos do stress tóxico, com prejuízos posteriores para a aprendizagem, comportamento, desenvolvimento físico e mental. O relatório também sugere que parte dos problemas mentais que ocorrem nos adultos devem ser vistas como transtornos de desenvolvimento que tiveram início na infância.

Ana Maria Escobar acrescenta que a exposição à realidade violenta do Brasil também pode contribuir para uma sensação de ansiedade nas crianças. "Antes, raramente uma criança ouvia falar de um ato de violência. Hoje, elas ficam mais confinadas e têm medo de assaltos e sequestros. Isso com certeza provoca maior stress e ansiedade, além de maior possibilidade de se sentir infeliz, principalmente entre aquelas que vivem nas grandes cidades brasileiras", diz.
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Sinais — O problema é agravado pelo fato de que muitos pais demoram a perceber o que se passa com seus filhos. "Eles acham que o comportamento das crianças é normal", diz Ana Maria Escobar. Além disso, a dificuldade em administrar o tempo que dedicam à vida profissional e aos filhos muitas vezes impede que os pais percebam os sinais de que algo está errado.

"Muitos pais priorizam a profissão e terceirizam a criação dos filhos. Mas é preciso se questionar: quanto tempo eu passo com meus filhos? Quem são as pessoas que estão criando eles?", afirma o psiquiatra Francisco Assumpção, da Sociedade Brasileira de Psiquiatria.

Essa é uma preocupação constante na vida da publicitária Flora*, que tem dois filhos, Cecília* e Celso*, de 7 e 9 anos, respectivamente. As crianças, que estudam em período integral na escola, têm uma rotina bastante atribulada. Celso faz aula de inglês, futebol, tênis e deve começar a aprender uma luta neste ano. Cecília também faz inglês, natação e deve começar a praticar ginástica olímpica. "Primeiro, experimentamos uma aula de inglês uma vez por semana, depois colocamos os dois em um esporte", afirma. "Tem que sentir muito como a criança está lidando com isso. Observar o comportamento para ver se ela está cansada e se o rendimento na escola começa a diminuir", diz. Flora se preocupou em contratar uma professora de inglês para que as crianças tivessem aulas em casa. Para ela, é melhor opção para evitar o stress desnecessário no trânsito.

Apesar da preocupação, Flora fez alterações na rotina de Cecília. A pequena começou a apresentar sinais de stress. Para descobrir o problema, Flora foi investigar com a filha e percebeu que a natação estava causando o problema. "Ela chorava muito e quando acordava dizia que não queria ir para a escola. Estava diferente do que ela é normalmente", disse. Flora tirou a filha da natação no ano passado, mas ela já pediu para voltar esse ano, segundo a mãe, que vai observar o desempenho da criança.
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Quando é depressão – De acordo com Ivete Gattás, da Unifesp, a depressão afeta 2% das crianças e até 5% dos adolescentes. Sabe-se ainda que a depressão na infância e na adolescência pode influenciar negativamente o desenvolvimento e o desempenho escolar, além de aumentar o risco de abuso de substâncias químicas e de suicídio.

Somente 50% dos adolescentes com depressão recebem o diagnóstico antes de se tornarem adultos. Gattás explica que o transtorno depressivo pode surgir a partir de vários fatores: predisposição genética e associação de fatores ambientais, que podem ser desencadeados pelo stress do dia a dia, sensação de vulnerabilidade, restrição ao desempenho da criança e sobrecarrega de atividades. (Veja a lista de sintomas). "Para caracterizar depressão, a criança deve apresentar mais de cinco sintomas, durante um mês", afirma Gattás.

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Terapia — Estudos já mostraram que a ansiedade durante a infância, se não contornada, pode se transformar em depressão durante a vida adulta. Por isso é necessário prevenir qualquer sintoma, mesmo que ele não seja o suficiente para o diagnóstico da depressão.

Carla*, de oito anos, começou a ter problemas aos cinco. Em seus desenhos, ela sempre aparecia chorando, enquanto suas amigas sorriam. “Ela é muito preocupada com a imagem que os outros têm dela. Se ela percebe que não corresponde ao que os outros esperam, ela se chateia muito”, diz a arquiteta Patrícia*, mãe de Carla.

“Tentamos conversar com ela, mas ela não revelava o que estava acontecendo. Descobri que as crianças na escola faziam um clubinho e que a Carla era sempre excluída”, diz Patrícia. O problema foi solucionado com a troca de sala. A pediatra de Carla indicou um especialista em saúde mental, para prevenir e ajudar a garota a entender a própria ansiedade. Há três anos, ela faz análise uma vez por semana. “Às vezes, ela me pergunta o que eu acho sobre determinado assunto e eu fico em dúvida sobre o que responder. E ela diz: ‘já sei, vou levar isso pra analista’”, conta a mãe.

Para Gattás, o pediatra deve ser treinado na área de saúde mental para diagnosticar problemas da infância e adolescência. “Ele acompanha a criança durante o crescimento e tem uma importância fundamental na orientação dos pais”, diz. “Se não houver uma mudança na forma como os pais lidam com seus filhos, vamos ver um aumento da frequência dos quadros psiquiátricos, mas transtornos de ansiedade e falta de perspectivas para as novas gerações”, diz Assumpção.

*Os nomes das mães e das crianças utilizados nesta reportagem foram trocados com o objetivo de preservar a privacidade dos personagens

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As 'mães tigres' estão certas?

Com criação autoritária, crianças orientais não têm a oportunidade de errar

As filhas de Amy Chua, professora de Direito da Universidade de Yale e descendente de chineses, não podem dormir na casa das amigas ou ter um namorado. Elas também estão proibidas de assistir televisão ou de jogar videogame e sabem que vão receber castigos pesados se tirarem uma nota menor que 10 — a mãe abre uma generosa exceção para ginástica e atuação. Foi isso que escreveu Amy em um controverso artigo intitulado Por que as Mães Chinesas São Superiores publicado no início do ano passado na edição online do Wall Street Journal. 

Amy é conhecida como o que se convencionou chamar de 'mães tigres', defensoras de um modelo de criação autoritário e punitivo. Depois do lançamento do livro Battle Hymn of the Tiger Mother (O Hino de Guerra da Mãe Tigre, ainda sem edição em português), Amy participou de programas de TV nos Estados Unidos e foi capa da revista Time, onde defendeu seu modo de criar os filhos.

No livro, ela mostra que o perfeccionismo é regra. Incentivar resultados medíocres e se preocupar com a autoestima dos filhos são comportamentos totalmente fora do padrão de criação linha dura que ela considera ideal. Ela não hesita em chamar sua filha mais velha de "lixo". Amy obriga suas filhas a aprender piano ou violino. Certa vez, ela forçou a filha mais nova, de sete anos, a tocar piano sem intervalos para tomar água ou ir ao banheiro até que ela aprendesse a tocar determinada música.

A crença de que é preciso exigir muito para atingir o máximo do potencial costuma ser mais comum em culturas orientais, mas também pode acontecer entre jamaicanos, irlandeses ou americanos, segundo Amy. A única exigência para se encaixar no perfil de mãe tigre é ser exigente.

Pesquisas já mostraram que estudantes asiáticos que cursam o ensino médio passam mais tempo estudando e fazendo lições de casa do que os jovens de outras culturas. Toda essa cobrança, no entanto, pode apresentar resultados trágicos. A China está entre os dez países com as maiores taxas de suicídio do mundo, com 22 mortes por 100.000 pessoas. Lá, uma pessoa tenta tirar a própria vida a cada dois minutos, segundo dados do governo chinês.

Desiree Baolian Qin, que também é chinesa e professora do Departamento de Estudos do Desenvolvimento Humano e Familiar, da Universidade Estadual do Michigan, realizou um estudo mostrando que as crianças chinesas também precisam ser felizes. A pesquisa, publicada em janeiro deste ano no Journal of Adolescence, foi realizada com 487 estudantes.

Os resultados mostraram que os chineses tinham mais problemas com os pais com assuntos relacionados aos estudos do que os outros. Além disso, os estudantes chineses eram mais depressivos, ansiosos e apresentaram maior taxa de baixa autoestima do que os estudantes ocidentais. Bom para os estudos, o modelo autoritário não é benéfico para a saúde mental das crianças.


Vamos combinar uma coisa? Vamos deixar as crianças serem crianças, fazerem coisas de criança e VIVEREM como crianças?

Cadê o Bebê que estava Aqui?

Ele chegou.  O uniforme da creche. E eu sei  também que em breve irei receber a tal lista de material escolar, quilométrica para uma criança de apenas 2 anos.

Mas foi outro dia que matriculei Davi na creche, com 1 ano e alguns dias! Nem andar ele andava. Cheguei lá e o entreguei à "tia", que o levou para o refeitório (pois era a hora do lanchinho), onde estavam outras crianças, algumas que já andavam, outras, como ele, que ficavam na cadeirinha de alimentação.

Fiquei sentada numa sala - acho que era a coordenação - mas não estava muito aflita, não.  Só um pouco apreensiva caso Davi começasse a estranhar e a chorar, afinal, até ali ele havia ficado com a avó o dia inteiro e não estava acostumado a conviver diariamente com outras crianças, nem em outro lugar que não fosse em casa.

E desde então ele está nessa rotina e agora já tem sua turma de coleguinhas.  Claro que de vez em quando ele chora quando entra na creche, mas varia muito e eu não sei o que faz com que ele fique choramingoso numa semana e totalmente "entregue" na outra.  Enfim, todos nós nos adaptamos a essa realidade, que é um corre-corre doido.

Até então, não havia necessidade do uso do uniforme.  Só a partir do Maternal 1 é que as crianças passam a usá-lo. Ouvi dizer - e vou me certifcar hoje - que ele ainda terá que levar uma muda de roupa e só usará o uniforme depois do banho (as crianças que não são do horário integral já vão uniformizadas). Como hoje haverá reunião de pais, vou ficar sabendo das demais atividades e/ou novas rotinas.  

As coisas passam muito rápido e com essa velocidade a gente não se dá conta de que deixou de comprar um macacãozinho e agora só compra short e camiseta (no caso dos meninos, né). Não tem coisa mais clara do que as roupas e os calçados para nos mostrarem que os nossos bebês estão indo embora e que estamos recebendo meninos e meninas mas que ainda são um pouco bebês.  Mesmo que ainda não saibam falar tudo, comer ou fazer as necessidades sozinhos, nessa fase a criança é "meio-a-meio", porque muitas ainda estão nas fraldas e mamadeiras, mas já usam uniformes e têm lições escolares!

Outro dia estava vendo uma mãe amamentando sua criança.  Me bateu uma saudade do tempo em que Davi também mamava. Mas as memórias daquela época são um pouco nebulosas, porque é tudo muito corrido, um dia emenda no outro da mesma forma e o bebê vai crescendo e mudando o tamanho das roupas e calçados e um dia começa a andar e a falar e vai para a escola e coloca uniforme e a gente vai comprar material escolar e ele já está escrevendo e lendo e andando e falando e comendo sozinho e cheio de vontades e....não é corrido? É assim mesmo, dá até falta de ar.

Voltando ao uniforme... como a direção da creche mudou, a cor também não é mais a mesma.  Agora, é azul e branco,  bem simples, mas bem que eu gostava da outra cor, que era cinza chumbo com vermelho.  Mas só isso, porque a creche, hoje, está muito, muito melhor.

Isso não é roupa de bebê!

A gente é meio esquisita. Tem horas que quer que nossas crianças cresçam e apareçam, deixem as fraldas e as mamadeiras.  E aí quando a gente olha para as roupas - ou recebe o uniforme da escola - fica muxoxa porque elas já não são mais os bebezinhos tão dependentes de nós, mesmo sabendo que eles serão nossos bebêzões por toda a vida, não é?

Mães.... ô povo estranho, esse....



Na área do prédio onde eu moro os arquitetos/engenheiros/donos/empreiteiros, enfim, tiveram uma ideia bem legal: fizeram um pomar, que fica nos fundos do próprio terreno.  Lá, foram plantados pés de jabuticaba, caju, banana, acerola, amora e abricó.  As frutas ficam lá, esperando para serem colhidas e saboreadas.  Então, eu tenho o privilégio, por exemplo, de tomar suco de laranja com acerola colhida no "fundo do quintal". Se chove muito, o cajueiro fica parecendo uma árvore de Natal, carregado de frutas cheias de suco também, e o jabuticabal, na sua época, também dá um show.

Ontem, ao chegar em casa, me deparo com esses cachos de banana que o pai do Davi colheu.  Eu acho que são banana da terra, porque são maiores e diferentes da banana d'água.  Olha que lindeza?  Como o pomar fica de frente para nossa janela, estamos sempre alertas e vigilantes e de olhão aberto, principalmente com as bananas, que têm o ano inteiro. Acho que meus vizinhos estão dormindo no ponto...


Muita gente se orgulha do lugar onde mora, e tem quem queira se mudar para um ambiente melhor.  Eu moro na zona oeste, num lugar cansativo de se chegar, longe da zona sul e suas praias e modas e atores globais.  Mas eu tenho o privilégio de comer fruta colhida no pé.  Isso para mim é podre de chique, sabe.


E o verão, heim? Você está aproveitando esse calorzão do cão?  Sorte sua, porque, como muita gente sabe, eu odeio essa época. Na terça-feira, fui levar Davi para fazer mais uma dilatação do canal da uretra.  O termômetro estava marcando 43 graus.  Só uma palavra define: inferno!


Um Picolé

Cheguei há pouco da rua.  A temperatura deveria estar em torno de 35º, mas a sensação térmica é de uns 40.  Vim  procurando uma barraquinha que vendesse picolé e a coisa mais estranha é que picolé só se encontra onde você sabe onde tem, ou seja, num país cuja temperatura média é de 27º e numa cidade de litoral e tão famosa como é o Rio de Janeiro, encontrar picolé requer praticamente uma pesquisa de campo.  Porque não é em qualquer lugar ou em qualquer esquina que se encontra um carrinho ou uma barraca que venda picolés. Só onde você sabe exatamente que tem e olhe lá. Mas se você quiser comer pipoca, vai ser disputada a tapas por uns três pipoqueiros a cada metro quadrado da rua.

Como muita gente sabe, a Itália é uma espécie de parque de diversões em se tratando de sorvetes. Existem não somente sabores dos mais variados, mas u-ni-ver-si-da-des que formam mestres na arte do sorvete.  Na Itália tem sorvete com sabor de melão, por exemplo, mas se você quiser um sorvete desse mesmo sabor aqui no Rio de Janeiro, procure muito e vá se preparando para procurar muito mais, porque não é fácil de achar (aliás, existe???). O inverno na Itália é de neve, e acho que lá não tem pé de tamarindo.  Mas tem sorvete, talvez não de tamarindo, mas de melão. E muito picolé, de vários sabores. O ano inteiro!

Como muita gente sabe, o Brasil é uma terra abençoada com uma diversidade de frutas e plantas que a gente passa a vida inteira sem conhecer tudo.  Cada região desse país produz frutas que vão desde o tamarindo e o açaí até o mirtilo e a nectarina. Mas você já comeu cagaita? Eu não. É uma fruta típica do cerrado brasileiro. Uxi é uma fruta amazônica e biribá é do Pará (obrigada, deus google).  Pergunta se existe sorvete dessas frutas? Pode até existir, mas não aqui no "sul maravilha".  Aqui no Rio de Janeiro, se você quiser provar alguns sabores "exóticos", vá na Feira de São Cristóvão, também chamada de Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, ou simplesmente "Feira dos Paraíbas". Pelo que eu sei, só lá a gente consegue tomar sorvete  de alguns sabores diferentes e ainda assim são poucas as opções de frutas  "exóticas", acredita? E a fruta propriamente dita? Esqueça, é mais fácil ir lá onde ela está do que ela vir até você. Mas se vier, você vai pagar caro, muito caro. 

Como muita gente sabe, o Brasil tem um dos maiores litorais oceânicos do mundo, com mais de 8.000 km de extensão.  O que vem à mente quando a gente imagina esse monte de mar? Peixe! Uma variedade de peixes e frutos do mar, uma oferta gigante de peixe, uma peixaria em cada esquina. Um restaurante de peixes e frutos do mar disputando meu estômago. O moço do peixe batendo na porta lá de casa, com um carrinho cheio de peixes fresquinhos e toneladas de camarão (eu sou louca por camarão).

Até parece.... porque essa fartura de peixe você só vai encontrar no Nordeste e mais ainda no Norte.  Porque peixe aqui na minha terra é caro, na feira, no mercado, no restaurante.  Peixe é quase um "prato especial". Camarão, lula, polvo, mexilhão, só em algumas ocasiões.  Siri? Carangueijo? Ah, não é tão simples e barato assim, não. (Eu sei que siri e carangueijo não são frutos do mar, mas adoro).

Num país colorido como o nosso, a gente acha graça quando encontra aquele típico turista estrangeiro, de bermuda, blusão florido, chapéu e tênis com meia até quase o joelho. Mas se a gente mora num lugar tão cheio de cores, qual é o espanto? Dizem - e não me pergunte quem disse - que os brasileiros se vestem muito sobriamente - estou falando de cores, não de tamanho de roupa.  Isso se deve ao fato de que o país é muito quente e colorido e geralmente quem mora em lugar frio gosta de cores berrantes.  Mas a Índia e a África são lugares quentes e coloridos, e seus habitantes se vestem com muita cor também! Mas quando chega o verão por aqui, a maioria dos motoristas de ônibus está vestida de calça comprida e tem uns que até gravata usam! E os porteiros e carregadores de mala de hotel, que usam quepe e até luvas brancas, como se estivessem em algum país frio? Por que a hotelaria brasileira não coloca bermuda e blusão estampado nos seus funcionários?

É certo que cada lugar tem suas esquisitices, mas por aqui há coisas estranhas que eu não entendo mesmo.  Eu não queria um sorvete, só um picolé de frutas.  Andei um bocado até achar, mas me pergunto sempre, quando isso acontece: por que não temos um carrinho de picolés em cada lugar, principalmente nessa época medonha de calor insuportável?  Por que as lojas não vendem tantos vestidos estampados e fresquinhos? Por que o peixe é tão caro? Por que não existem praças com chafarizes onde as pessoas e crianças pudessem se banhar nesse calorão? Por que condução com ar condicionado ainda é artigo de luxo?

Por que não existe picolé de cagaita?