Menino do Rio

Como muita gente sabe, eu odeio o verão, por razões várias, sendo a principal, o calor somaliano de 87º à sombra, que acaba com a minha felicidade. Por conta disso, é praticamente improvável eu frequentar praia justo na época mais popular desse lugar. Aguardo pacientemente que o outono chegue para fazer um programa praiano, afinal, além de a temperatura estar mais amena, não preciso  encarar a cabeçada de gente se digladiando por um pedaço de areia. Tudo lindo. Tudo maravilhoso.

Como não gosto de ficar exposta ao sol, levo sempre minha fiel e estilosa barraca, além de cadeira e outros badulaques típicos de quem gosta de se prevenir nessas situações. Portanto, ir à praia é um lazer que requer o mínimo de planejamento logístico. Então, com o outono nas mãos, um feriado prolongado e uma criança em casa, resolvi ir à praia!

Foi a primeira vez de Davi nas areias e no mar. Assim como acontece com muitas crianças nesse primeiro momento, o menino gritou a plenos pulmões em contato com a areia. Se encolhia feito um siri, esgoelou até quase desmaiar de tanto choro. Em se tratando do sujeito em questão, não me surpreendi, pois ele, frente ao novo, geralmente reage dessa forma, ou seja, abrindo um imenso bocão, chorando e soltando soluços ofendidos e magoados.

Ir à praia com criança, até pelo menos seus 2 anos, é um programa que deve ser planejado com muita, mas muita antecedência. Esqueça sua vaidade praiana dos tempos de gatinha, porque é quase certo que você irá pagar sua língua por ter falado tanto e mal dos frequentadores do Piscinão de Ramos ou da praia do Flamengo ou Botafogo: você vai fazer farofa. Você vai se transformar numa farofeira.

Não há como ser garota do verão quando se tem ao redor uma quantidade razoável de objetos que são levados para a praia, a fim de atenderem a mínima necessidade da criança. Piscina inflável (se tiver), baldes, brinquedos - de praia ou não. A bolsa - sim, de viagem - poderá ter: fraldas de pano, descartáveis e específicas (aquelas que não incham na água), lenços umedecidos, uns 2 cueiros. Toalha de banho, umas 3 mudas de roupas, babadores, mamadeiras, leite em pó, biscoitos, iogurte, guardanapos, colherzinha, um pote com a comida da criança (que você pode pedir para alguém do quiosque mais próximo esquentar no microondas), água, suco, que podem ir numa caixa de isopor ou numa bolsa térmica. Bloqueador solar, remédios, uma caixinha de primeiros socorros. Um par de meias também é recomendável. E como somos pessoas politicamente corretas, também não custa nada levar alguns sacos plásticos para os dejetos, que CERTAMENTE serão produzidos.

O programa deverá começar bem cedo, em torno de 7h30 ou 8 da manhã. Não somente por conta da exposição da criança ao sol, mas também para encontrar uma vaga no estacionamento, tarefa dificílima. O ideal é que a volta para a casa se dê, no máximo, até meio dia. Isso, no outono, claro.

Com exceção das celebridades, sempre lindas e loiras com seus pimpolhos nas areias do Leblon ou da Côte D'Azur, ostentando uma silhueta impecável e ausente das mazelas das mulheres anônimas, levar uma criança à praia faz com que a pessoa - na sua maioria, claro - se nivele à criança, no sentido de perder, por um tempo, a preocupação com o que os outros estão pensando.

Outra coisa interessante é que as crianças acabam criando uma espécie de "grande vizinhança", pois não somente brincam com suas próprias coisas como também se juntam a outras crianças que estiverem próximas e vice-versa. Ou seja, a praia se transforma numa grande aldeia infantil e você, num enorme croquete à beira mar.

Eis que aguardo com ansiedade pela próxima ida à praia com Davi. Apesar do trabalhão, vale a pena.  Sei que ele irá fazer outro escândalo, mas não me importo, porque eu quero que ele se habitue com a areia e com a água do mar, afinal, ele não é um menino do Rio?

E que ninguém se engane: metida que sou, não pensem que irão me encontrar no Piscinão de Ramos ou na praia do Flamengo. Eu pago farofa, sim, mas com muita classe.


Explorando a Desgraça Alheia


Eu não vou me juntar às vozes repetitivas que estão faturando com o tal "massacre" de Realengo.  Para mim, já deu. 

Não vou bancar a analista ou especialista de botequim, procurando justificativas técnicas ou psicológicas para o que aconteceu na cabeça do assassino, até porque o que não tem faltado é análise a respeito e eu também não sou especialista em nada.

Com sinceridade, não cheguei a chorar, mas também não deixei de ficar chocada com tamanha violência e perdas irreparáveis. Mais uma tragédia na vida de várias pessoas, familiares, amigos, vizinhos. Isso, ninguém poderá negar.  Tragédia também, talvez a maior, foi a própria vida do rapaz, uma sequência de humilhações que resultou numa baixa auto-estima, que o levou a ser o que foi e a fazer o que fez.

Diante de tantas coisas, o que mais me tem chamado a atenção é a falta de respeito e de sensibilidade das pessoas que estão lidando com as crianças, principalmente os jornalistas. Todos querem faturar em cima desse grande acontecimento, que vende muitos jornais e revistas, e eleva o IBOPE de muitos programas de TV. E isso tem me deixado profundamente irritada, a ponto de nem mais querer ler ou ouvir falar dos tais acontecimentos.  É tudo repetitivo e, portanto, igual.

As crianças, vítimas diretas ou indiretas, estão sendo expostas de uma maneira brutal e parece que ninguém está percebendo isso! Os repórteres e jornalistas, claro, têm que produzir matéria, pois esse é seu ganha pão!  Mas, e os pais? Por que deixam seus filhos serem explorados dessa forma?  Por que não preservam suas crianças, dando a elas o tempo necessário para processar todo o trauma que sofreram? Não. Jogam seus filhos na boca do leão.  E quando eu vi uma criança no programa do Faustão, então eu percebi que tem alguma coisa errada nos valores de muita gente. Não consigo entender essa necessidade vital de aparecer, de se mostrar, mesmo que diante de tanta dor, de tanto sofrimento!

Não sou melhor do que ninguém, não quero aparecer, não sou superior, mas, vou confessar uma coisa: se fosse no meu caso, eu não iria expor o Davi a qualquer tipo de entrevista, programa, jogo de futebol, entre tantas outras exposições que estão acontecendo por conta da desgraça alheia!  Não iria mesmo! Acho tremenda falta de respeito com o sentimento da criança, porque a mídia usa e abusa da ingenuidade das pessoas para extrair seu interesse, e depois, assim como se faz com qualquer coisa sugada, joga fora.

A tragédia de Realengo vai ficar na memória de muita gente, não há dúvida. Mas daqui a algum tempo vai ser página virada nas manchetes. Talvez alguma coisa mude, mas muitas outras coisas vão voltar à normalidade, como já é de praxe, afinal, a vida continua, mesmo que capenga, mas continua.

E você? O que você acha dessa superexposição das crianças envolvidas, diretamente ou não, na tragédia de Realengo? É normal? É exploração? Ou eu é que sou chata mesmo?

Atualização: 20/04/11 - O meu queridíssimo leitor Alexandre Silvestre me mandou um link em que o blogueiro Mauricio Stycer tem uma percepção bem parecida com esse tópico.  Quando puder e se quiser, vá  lá:
http://mauriciostycer.blogosfera.uol.com.br/2011/04/20/em-busca-da-noticia-e-de-cenas-dramaticas-em-realengo/

Somos Todos Iguais esta Noite

Como muita gente sabe, eu odeio o verão, algo um pouco estranho para quem mora no Rio de Janeiro. Detesto tudo e sofro muito nessa época do ano. Sofro porque não suporto calor, suo de pingar, de ficar completamente molhada, o que me causa o constrangimento de parecer estar passando mal. O que não deixa de ser um fato.

Tudo começa com o início do Horário de Verão, que me rouba preciosos 60 minutos de sono, o que, no acumulado, dá umas 3 décadas sem dormir. Por verão! Como já comentei aqui, o verão é a época em que todos os lugares estão cheios, de gente e de calor, tudo é caro, tudo é quente, tudo é insuportável. Época também em que nós, brasileiros e principalmente cariocas somos brindados com a visita do Aedes Aegypti, aquele mosquitinho fofo com pintinhas brancas e que a cada ano nos surpreende com um nível a mais em sua evolução epidêmica. Este ano, por exemplo, já temos a dengue-tipo-4, seja lá o que isso signifique.

Portanto, assim que os dias começam a ficar mais longos e percebo o aumento da temperatura, começo a lamuriar e a contar dias e horas para que essa estação infernal seja rápida e que o meu tão amado e idolatrado Outono chegue, com seus dias e noites sequinhos e fresquinhos.  Porém, apesar de a-m-a-r essa estação, até outro dia não sabia, ou não tinha me dado conta, da quantidade de alérgicos que são vítimas dessa mudança de temperatura nessa adorável estação climática.

Davi teve 5 dias de febre e o raio X apontou catarro no pulmão. Assim como ele, ouvi relatos sobre outras crianças, filhos de colegas de trabalho e até de amigos, que sofrem um bocado nessa época. O coquetel geralmente é o mesmo: antibiótico + xarope + nebulização, muita nebulização.  Aliás, nebulizador é artigo de primeiríssima necessidade em qualquer casa que tenha uma criança hoje em dia.   Para mim é mais uma coisa nova, já que eu, por exemplo, não sofro com os mais famosos ITEs da estação: rinITE  e sinusITE, grandes motivadores da nebulização. Problemas pulmonares. Problemas respiratórios. Problemas no ouvido. Otorrinolaringologia. Não à toa o nome tem esse tamanho.  Enfim, a mudança do clima, que para mim é o céu, para muitos é o inferno.

Não importa se você tem plano de saúde ou não: todos os hospitais estão lotados, o que nivela todas as pessoas, visto que o atendimento leva, no mínimo, 3 horas, em qualquer lugar. O setor pediátrico fica mais parecido com uma creche desgovernada, com crianças de 0 a 12 anos, tossindo, com febre, na nebulização, chorando ou gritando por conta de alguma injeção no traseiro ou por causa do exame de sangue.  Dando uma olhada geral, os hospitais ficam parecendo um estacionamento rotativo, tamanha é a quantidade de pessoas que entram e saem do saguão. E quanto mais tarde, mais pessoas chegam, agitando a noite que  parece que dura mais que uma noite.

Este mês vai fazer 1 ano que Davi foi internado com pneumonia e bronquiolite. Foram 2 semanas em que a cada 2 horas uma enfermeira adentrava o quarto portando uma cestinha com remédios orais e para nebulização, muita nebulização. Enquanto isso, o saguão ficava coalhado de crianças, tossindo, com febre ou chorando. Ainda não havia me dado conta de que estávamos no Outono, meu adorável Outono, de dias e noites fresquinhos e sequinhos, mas que faz tanta gente penar com narizes entupidos e pulmões manchados.

Ainda assim, continuo amando essa estação do ano. Não fico pingando de suor, consigo usar meus perfumes, fico mais calminha e alegre, consigo dormir bem (na medida do possível, claro!). Porém, para uma multidão de pessoas, crianças principalmente, é época de sofrimento.

Mas, tudo bem, não há de ser nada. No inverno a gente tem gripe suína.