Festa das Loucas, da Família e outras coisinhas

Sumida, eu, né.  Então, além do cansaço e desânimo, o computador "deu pau" e teve que ir para uma revisão básica de alguns milhares de quilômetros... Mas aí, para além do conserto da máquina, vira e mexe recebo algum "presente" carinhoso em forma de comentário ou contato e reanimo as forças, apesar de não deixar de pensar, nem por um minuto, em quem que por aqui passa.

Há duas semanas foi realizada a festa do Dia das Mães na escola do Davi.  Como de costume, a mulherada estava enlouquecida com seus smartphones, tablets e máquinas fotográficas, na ânsia de registrar absolutamente tudo o possível de gracinha que seus filhotes fizessem, com muitos gritinhos e lágrimas.   Claro que eu não sou exceção à regra, afinal, eu sei que um dia essas festas vão acabar - o guri vai crescer e é bem provável que vá sentir vergonha de mim.  Portanto, "sou dessas" de gravar, fotografar, fazer um pequeno alvoroço nessas ocasiões.  Costumo dizer que não é a festa do Dia das Mães e, sim, do Dia das Loucas.










Assim como o Dia das Mães, a escola onde Davi estuda também realizar as outras tradicionais datas familiares, como Dia dos Avós e Dia dos Pais.  E um dia, ao perguntar a uma colega de trabalho se a escola de seus filhos iria fazer a festa do Dia das Mães, ela me respondeu que não, que o que a escola faz é o Dia da Família.  Você já ouviu falar?  Pois é, eu já tinha mas nunca havia me dado conta da sua frequência cada vez maior nos dias de hoje.

Com o surgimento de novos modelos familiares, como casais homossexuais que possuem filhos, recasamentos com filhos de ambos os lados, muitas escolas têm aberto mão de realizar festas para um ente familiar específico, como o pai ou a mãe para dar lugar a um evento em que todos possam participar.  Além disso, ouvi dizer que uma festa da família serve também para a criança que não tem pai ou mãe ou avós participar sem constrangimentos dessas ausências em sua vida.

Mas não tem jeito: essa é a nossa realidade, pelo menos é a sociedade em que Davi irá viver e já está crescendo.  O que nos resta é entendermos, aceitarmos, respeitarmos, porém, sem abrir mão daquilo que faz parte do nosso conjunto de valores e fazermos com que nossos filhos respeitem as escolhas e o diferente, acima de tudo.

Nesses dias lindos e maravilhosos de outono, aproveitamos também para fazer um passeio num lugar que eu conheço desde muito pequena, o Parque Lage, localizado no bairro do Jardim Botânico, zona sul da cidade.



O Parque Lage é uma área relativamente pequena, que possui uma Escola de Artes Plásticas, além de servir para piquenique e ensaios fotográficos.  Fica praticamente embaixo do "suvaco" do Cristo Redentor, além de uma trilha que leva para aquele ponto turístico.



Além disso, tem trilhas que fazem um papel lúdico na cabecinha das crianças, como se estivessem numa aventura dentro de uma floresta.  Mas vende refrigerantes também...a lata com meu nome saiu da máquina!






No Lago dos Patos tem.... carpas.


Desde abril, por ocasião do Dia do Índio, o Parque Lage tem uma oca bem grande com alguns índios caracterizados e que vendem artesanatos indígenas.


O povo que nunca viu um índio de verdade por perto aproveita para fotografar e eu, claro, também não fiz diferente (tudo bem que o índio estava com aparelho ortodôntico, mas, né...).


And last but not least, tenho tentado algumas costurices.  A última que fiz foi a capa para a minha máquina de costura que já não está me atendendo, porque quanto mais a gente aprende, mais coisas diferentes quer fazer, e ela já está ficando fraquinha.  Mas para não ficar no meio da poeira, ganhou um vestido bem legalzinho.  Levei uma sova boa, mas até que ficou direitinho.


E vamos que vamos porque a metade do ano já passou.

Beijos.

Sobre chegadas e partidas

 

Se dependesse de muitas mães, como euzinha aqui, os filhos nunca sofreriam, nunca teriam decepções, desapontamentos, tristezas, essas crueldades que a vida implacavelmente apronta no nosso caminho.  Os filhos seriam felizes para sempre, mais até que os casais recém-casados.  Uma dor física aqui, outra ali, mas nada que nenhuma dipirona não resolvesse.  O mundo seria, então, perfeito.  Crianças felizes fazem mães felizes. Fim.

Mas o nosso planejamento de felicidade eterna se acaba muitas vezes, pois a gente sabe que a tal da vida não é boazinha, e fazer uma criança entender isso, na prática, é muito doloroso, principalmente para uma mãe tão grudada no filho como eu. Se Davi sofre, eu quase morro.  Se ele está alegre, em fico inchada de felicidade. 

Um dos momentos tristes que temos vivido é a separação de seus amiguinhos da escola, o que tem cortado meu coração em vários pedacinhos.

Na mudança de ano, muitas crianças, por razões variadas, foram para outras escolas.  Pais insatisfeitos com a escola, mudança de residência ou mesmo vontade da própria criança fizeram com que alguns amiguinhos de berço do Davi não estejam mais com ele na turma deste ano.  Nicholas, por exemplo, decidiu por si mesmo que queria estudar numa escola maior.  Sua mudança foi um baque forte no Davi, porém, como ele mora perto, os dois já passaram uma tarde juntos para matar a saudade.  Ainda assim, o convívio de uma vida inteira (5 longos anos!) ainda faz falta, já que eles entraram na escola praticamente na mesma idade e cresceram juntos desde o berçário.

Quando eu soube dessas mudanças, no final do ano passado, fiquei bastante chateada porque sabia que Davi era muito ligado a alguns coleguinhas em especial.  Eu vi que ele sofria, mesmo que não chorasse ou ficasse amuado.  Mas eu sentia que ele estava entristecido.  O ano começou e alguns amiguinhos continuaram na mesma turma e as coisas se normalizaram.  Até que, outro dia, Davi me informa que um outro amiguinho iria deixar a escola para se mudar para outro bairro.

E agora? Como encarar, novamente, uma partida, uma despedida, uma ausência de convivência com alguém que lhe é especial?  Perguntei à professora, e ela havia confirmado dizendo que Davi havia chorado muito com a notícia, assim como ela. Estavam todos tristes.  E eu fiquei bem chateada.

Eu fui uma criança sozinha e como morei em vários lugares não tenho memória de nada de antes dos 6 anos de idade.  Não me lembro de ter tido nenhuma amiguinha de infância, alguém que me tenha sido muito especial, já que meus laços afetivos sempre foram frágeis.  Depois de tantos anos, consegui perceber que o meu comportamento meio superficial nas relações se dá muito por isso, por não ter tido uma relação afetiva permanente com ninguém.  Eu morava em algum lugar, de repente minha mãe aparecia e me colocava para morar em outro lugar, então, se havia algum laço afetivo sendo formado, ele era rompido bruscamente. O que me vem à memória é alguma criança aqui, outra ali, mas ninguém em especial, com nome ou rosto.

Por outro lado, dada a carência de afetividade, em grudava em qualquer pessoa, qualquer criança que me desse alguma migalha de atenção e carinho.  E quando, por algum motivo, acontecia uma separação, eu sentia um golpe quase mortal  na minha alma.  Isso perdurou por muitos anos, até que aprendi a lidar com essa carência e a valorizar principalmente a mim mesma, não deixando que alguns abusos sentimentais me tomassem de assalto.

Mas as feridas da alma estão lá, e vira e mexe são tocadas de alguma forma, trazendo um pouco da tristeza da partida, do rompimento brusco de uma  relação afetiva.  Quando soube que mais um amiguinho do Davi se ia, a dor da separação foi muito grande, talvez mais em mim do que nele, ainda uma tabula rasa nas "sofrências" da vida. 

É claro que esse não é o pior dos mundos, afinal, as fatalidades estão aí nos espreitando.  Mesmo assim, enfrentar o desafio de não ter mais um ente querido por perto, apesar de fazer parte da estrada da vida, é algo inevitável e com o qual ele vai ter que lidar, até porque ele mesmo vai, um dia, se mudar, seja da escola ou do bairro, e vai ter outro desafio, que é fazer novos amigos, formando laços afetivos, que ora serão frágeis e momentâneos, ora firmes e duradouros.

Bom seria se todos que se gostam pudessem viver juntos e dividir as experiências das descobertas que a vida tem guardado para si.  Mas a gente que já está na estrada da vida sabe que ela, a vida, nem sempre é boazinha assim e as chegadas e partidas fazem parte do processo v-i-v-e-r. A tristeza de Davi em se despedir de amigos é uma das primeiras experiências que ele inevitavelmente irá experimentar, mas é certo que a alegria de fazer novos amigos também virá.

Ele vai ter que aprender a lidar com seu sofrimento, e eu, com o sofrimento dele.  E esse é um dos meus grandes desafios, porque a dor é dobrada.