# Error #


Quem nunca, nunca, nunca cometeu o erro que proclamava que nunca, nunca, nunca iria cometer, que atire a primeira chupeta! A verdade é que na prática, a teoria é outra. Porque eu nunca, nunca, nunca iria deixar o Davi dormir comigo! Imagina, eu, uma quase descendente do Dr. Spock de tanta racionalidade, com uma vasta experiência em assistir programas como "Doces Sonhos", vou me deixar envolver por um pedaço de gente durante a noite! Nunca! Jamais! Em tempo Algum!

A seguir, o passo-a-passo ilustrado de um erro de programação muito comum e quase imperceptível, mas com grande poder de destruição!

Futuro Monstrinho detected
O Sono dos Justos
No começo tudo é lindo, tudo é maravilhoso, e não percebemos que sutilmente estamos criando um monstrinho embaixo do nosso próprio nariz. Comecei fazendo Davi dormir no meu colo, depois, em cima da minha barriga, atravessado para o lado esquerdo, depois na minha cama e em seguida era levado para o berço. Durante a madrugada, acordava umas 2 ou 3 vezes, o que, até então, eu considerava normal. Solução: Um colinho rápido e a devolução ao berço (caro).  
1/2 #Error#

O Baile da Meia Noite
Oi.
Depois de um tempo, eis que, ao contrário das histórias infantis, o príncipe se transforma num sapo com uma boca enorme, logo após as doze badaladas notúrnicas. Um verdadeiro vexame, a ponto de começarmos a fechar portas e janelas, no esforço de não sermos convidados a sair do prédio, por conta da infração à Lei do Silêncio. Solução: o poder do cansaço é maior, e o sapinho é levado para dormir no grande lago, junto com os demais sapões. #Error# #Error# 

Vou Não! Quero Não! Gosto Não!
Eu sou um berço!
O berço (caro) se transforma basicamente em mais uma peça do mobiliário, pois que quase nunca é visitado pelo dono. Solução: Passa-se, então, a ser utilizada uma rotina: leva-se o futuro sapinho para dormir em cima da barriga da sapa-mãe e depois  que ele cai nos braços de Morfeu, é transportado  para o tal berço (caro). Após o baile da meia noite, o sapinho retorna para o lago, onde ficará coachando por toda a noite, juntamente com os demais sapos que, a essa altura, já não coacham tão bem há algum tempo.#Error# #Error# #Error#


A família Doriana na Matrix!
Um Aconchego Aconchegante
E quem não gosta de um aconchego? E quem não gosta de dividir o  calor, de dormir de conchinha e se enroscar por debaixo das cobertas? Se é bom para os sapos grandes, imagina para os sapinhos. E, vamos assumir: quem já não enveredou por esse caminho? Porque dormir com a cria é muito, muito gostoso. Só que, depois que se entra nessa estrada, para encontrar a saída demora e é bastante trabalhoso. #Error# #Error# #Error# #Error#

Opa! 
 E quando eu percebi que Davi não somente queria dormir comigo mas principalmente EM CIMA de mim,  ou no colo durante toda a noite, aí eu concluí que era hora de parar, pois do contrário a situação iria ficar muito, muito pior! Para tentar corrigir um erro tão gostoso, porém, é necessário ter muita paciência e abrir mão de algumas noites de sono, porque a criança vai tentar, a todo custo, e com muita gritaria, fazer com que esse processo não continue, por óbvio.

Claro que meu sapinho vai ser levado para o lago de vez em quando, mas  se essa programação não for cancelada agora, ele vai crescer e ocupar mais espaço do que lhe é devido. No momento, acredito que vou atravessar algumas noites em claro, com muita gritaria no ouvido, me coçando para não cair na tentação de levá-lo para a minha cama. É o preço que eu tenho que pagar, e eu já estou no vermelho desse cheque especial.

Mas é tão gostoso ficar de conchinha com aquele pedacinho de gente....

Esgotada

Hoje faz exatamente 1 mês que não posto nenhum tópico neste blog. Um feriado de carnaval no meio do caminho, além de alguns vários outros acontecimentos domésticos justificam meu sumiço desse espaço.  Passei por alguns momentos bem.... hum.... trabalhosos nessas últimas semanas, digamos assim e, ao final, o que restou foi uma pessoa cansada, arrasada, esgotada, cheia de sono e dores no corpo. 

Há cerca de duas semanas, a avó do Davi apresentou alguns problemas de hipertensão, tendo como ápice sua queda no chão, completamente desacordada, o que abriu uma boa lasca na sua testa e nariz. Eram em torno de 6 horas da manhã de um sábado, quando ouvimos o barulho do corpo dela caindo no chão.  Ela havia desmaiado - não se sabe até hoje o real motivo - e, de imediato, achei que ela tivesse morrido. Ao ser colocada numa cadeira, começou a balbuciar coisas e, então, pensei que tivesse tido um AVC. Graças a Deus, tudo não passou de um mal súbito, talvez um pico de hiper e hipotensão - se é que isso existe. O momento mais crítico foi vê-la com o rosto coberto de sangue, por um lado, e o pai do Davi desmaiando, por outro lado. Uma cena tragicômica. O  fato é que, no momento do acontecido, parecia que o tsunami japonês da sexta-feira havia respingado lá no Campinho na manhã do dia seguinte.

Por conta disso, tive que colocar Davi em tempo integral na creche, pois não há mais como deixá-lo com sua  avó, nem que seja por um curto período de tempo. Ela ainda se recupera, porém, Davi está cada vez mais impossível (o que é ótimo, pois significa que está crescendo e aparecendo), e creio que em breve ele irá começar a andar (é, ainda está enrolando), e aí, a coisa vai ficar mais preta ainda.

É impressionante como a criança percebe a agitação das pessoas ao seu redor, e fica mais agitada ainda, causando, infelizmente, uma reação mais efetiva, para não dizer enérgica, por parte dos pais, ou, mais especificamente, da mãe. E é aí que a gente se destempera e acaba fazendo grosseira também. Fala alto, dá palmada, a criança chora, cheia de mágoa e razão. E depois a gente fica com vontade de se atirar do 4º andar, de tanto arrependimento e culpa por não ter tido equilíbrio emocional o suficiente para enfrentar essas situações-limite.

Eu já dei algumas palmadas no Davi. Algumas no traseiro - que são amortecidas pela fralda -, outras na palma da mãozinha também. E confesso que sempre me senti péssima  e fracassada depois. E acho bom ter me sentido péssima, porque não consigo entender como uma pessoa não sente a menor culpa em agredir uma criança, mesmo que com uma palmadinha. Não quero e não vou bater no meu filho à toa, até porque sei o que é violência contra criança, pois eu mesma já fui surrada algumas poucas vezes e não foi nada bom.  Eu sou do tempo em que crianças não recebiam palmadinhas, muito menos eram chamadas para conversar. Eram surradas com varas ou cintos, sem direito a qualquer defesa ou explicação.  E exatamente por conta disso eu me esmero em não repetir essas atitudes. Há pessoas que até agradecem aos pais por terem levado uma sova,  como forma de justificar sua boa índole e caráter, mas, sei lá, talvez isso só tenha surtido efeito na minha geração.

O outro extremo muitas vezes se resume em crianças que batem em seus pais que, por sua vez,  também devem se sentir péssimos e fracassados e acabam correndo para os braços da Super Nanny, terceirizando uma responsabilidade que é somente deles/nossa.

Encontrar esse equilíbrio é, a meu, ver, um dos pontos mais difíceis de serem alcançados pelos pais dos nossos tempos.  Dar uma palmadinha? Chamar para conversar? Fazer vista grossa? O que sinto é que a minha geração de pais está um pouco sem rumo em relação a esse assunto. Para alguns, dar uma palmada é um insulto, e temos até propaganda e campanha contra. Por outro lado, temos crianças que foram criadas na base do diálogo e ninguém chegou a lugar algum. Há, também, aquelas que simplesmente não receberam nada, nem palmada, nem conversa, foram ignoradas por completo. Em cada situação, há casos que deram certo e que também deram errado, vai entender?


Não sei se estou no caminho certo, não quero abrir mão de corrigir meu filho com uma palmada, mas também não quero ir além disso. Porém, repito: não há momento em que eu me sinta mais arrasada, mais acabada, mais esgotada quando isso acontece. Por outro lado, o que eu não quero, de forma alguma, é deixar de sentir culpa, mas também não quero que essa mesma culpa me impeça de corrigí-lo. De uma coisa eu sei: Davi é uma das crianças mais beijadas do planeta. Da cabeça aos pés. Sempre e à toda hora. E faço isso sem a menor culpa!