3 meses



Passei 3 meses desempregada.  Sim, voltei a trabalhar em horário integral desde o começo deste mês Não, o salário não é o mesmo.  Mesmo.  A situação, em geral, não é das melhores, mas com fé em Deus, vamos enfrentando cada dia como um milagre.

Nesses 3 meses, claro que muitas coisas aconteceram.  Mas não foi fácil me adaptar à vida de dona de casa.  Trabalho há mais de 24 anos nesse ritmo e a parada brusca numa velocidade alta ou é perda total ou é um milagre.

Por incrível que pareça, eu não conseguia fazer meu dia render.  Claro que, com filho pequeno, eu tinha uma rotina a ser seguida: acordar, alimentá-lo, ajudá-lo a fazer o dever de casa, arrumar a casa, levá-lo para a escola, voltar para casa e acabar de fazer as coisas que ficavam pendentes.  Cuidar da roupa, das plantas, ir ao mercado, limpar armários.

Não, eu não conseguia estabelecer uma rotina para mim. Apesar de colocar o Davi na cama no horário de sempre, em torno das 21h30, eu voltava para a sala e ia assistir a algum programa de TV, desses de investigação criminal.  Deitava e não conseguia pegar no sono, voltava para o sofá e cochilava. Tudo isso agravado pelo calor absurdo que fez nesse verão.

Não foi fácil.  Não somente a adaptação física, mas principalmente a mental, a sentimental e a psicológica.  Eu não fiquei bem.  Nesse período pude sentir o que é o trabalho doméstico, tão cruelmente desvalorizado pela nossa sociedade.  E não faz diferença se a gente trabalha fora ou não, o trabalho doméstico nunca acaba e nunca é visto, a menos que não seja feito.

Talvez o que tenha mais me incomodado nesses dias foi a incerteza.  Eu fiquei pouco tempo desempregada na minha vida, e quando isso aconteceu, apesar de ter minhas responsabilidades, eu era nova e solteira.  Depois de todos esses anos, com casa e filho para cuidar, as perspectivas mudam.  Claro que o pai do Davi é meu braço esquerdo e direito, uma pessoa que assume e chega junto comigo nas responsabilidades.  O problema era a minha cabeça, acostumada a resolver muita coisa sozinha, a assumir compromissos financeiros.

É um misto de menos valia, de sentir que minha experiência, meu talento, minha fidelidade, minha dedicação foram por água abaixo em questão de segundos.  Por muito tempo, me senti derrotada.  Não, a verdade é que em alguns momentos ainda me sinto assim.  Bem, sou verdadeira, e se este é meu espaço de desabafos, não posso mentir para mim mesma, muito menos para quem por aqui passa.

O novo emprego não é dos melhores, mas... o exercício de pensar que poderia ser pior sempre tem seu valor nessas horas. Tenho plano de saúde, uma ocupação e alguma renda, num país que produziu mais de 13 milhões de desempregados - dados oficiais, que nunca são confiáveis, né -, e como bem diz o meu marido, na minha idade, voltar ao mercado de trabalho em tão pouco tempo é quase um milagre.

Estamos todos bem, de saúde, de vida, de espiritualidade.  Davi e seu pai me consolam quando eu choro.  Eu respiro fundo e penso... que poderia ser pior.   Poderia ser uma doença incurável, um acidente, uma fatalidade - afinal, eu moro no Rio de Janeiro, não é mesmo? -, mas foi mais uma etapa da vida.  Coisas boas e ruins acontecem, mas a gente só aprende mesmo com essas últimas.

Eu e a Elaine Gaspareto estamos trabalhando para a mudança visual deste blog.  Como sou das antigas, ainda insisto em ter um blog, numa época de tantas redes sociais, de rapidez de tanta informação muitas vezes vazia.

Vou voltando aos poucos.  Meus artesanatos e também uma novidade que surgiu nesse período e que em breve irei trazer para postar.

Um grande abraço.  Um beijo.

Luciana.


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