R.S.V.P.

A vida social e cultural das crianças de hoje é, em muitos casos, bem mais agitada, concorrida e sofisticada que a de seus pais. E entre casamentos, homenagens, shows, teatros e cinemas, um dos eventos que ainda ocupam um grande espaço na grade infantil são os aniversários.
Houve um tempo em que a festa de aniversário geralmente acontecia dentro ou nos arredores da casa, e envolvia muitas pessoas da família, como mãe, tias, avós e até as vizinhas.  Era tudo bem artesanal,  bastante cansativo e um pouco enlouquecedor. O planejamento da festa podia levar, às vezes, 1 ano,  e todos os envolvidos torciam  para que não chovesse ou não fizesse muito calor no dia tão especial.

O pior, era, quase sempre, o apocalíptico Day After, em que restos de salgadinhos, doces, copos, papéis, bolas, bolo - e até pessoas - pairavam por sobre a mobília e o chão, emporcalhando toda a casa. A cozinha, de tão virada, era um convite ao suicídio. Os cachorros adoravam!

Com o advento das casas de festas, "organizar" uma festa de aniversário se tornou mais uma questão de contratação de serviços do que de trabalho braçal e manual.  Sem a necessidade de virar noites enrolando brigadeiros ou enchendo balões, o tempo de sobra proporciona,  principalmente às mães, uma longa e confortável visita ao salão de beleza e ao shopping.  Além disso, a casa fica limpinha e o cachorro sossegado. Com orçamentos que cabem em muitos bolsos, tudo se tornou muito rápido, fácil e prático. Enfim, é a glória!

As casas de festas, na sua maioria, se parecem com um pequeno parque de diversões. Dependendo do nível de qualidade - que reflete diretamente no preço -, há brinquedos como trenzinhos e rodas gigantes, balanços, naves espaciais, paredes para tracking, campos de futebol, máquinas de games, pula-pulas, camas elásticas, "camarins", piscinas de bolinhas.  Há também, em algumas, barracas de pipoca, algodão doce, sorvete, "fotos malucas". Com a ausência dos cachorros, as crianças se esbaldam de vez e o esmalte das mães fica impecável, além de todos ficarem sequinhos por conta do potente ar condicionado, independente da temperatura externa.

Acontece, a meu ver, que, às vezes a praticidade abre mão de algumas tradições ou comportamentos que deveriam ser mantidos. Um exemplo é o baú ou aquele grande saco para os presentes. É super prático chegar e entregar o presente à recepcionista, ou depositá-lo num baú ou no saco grande. Porém, eu fico pensando como essa praticidade acaba com o contato visual e físico entre o aniversariante e o convidado, e que leva também ao desuso do cumprimento e agradecimento mútuos. 

Imagino a criança, no dia seguinte, ao abrir seus presentes e se deparar com um pacote sem nome ou com o nome de alguém que ela definitivamente não vai saber de quem se trata.  Claro que não sou ingênua e nem burra de achar que uma criança de 1 ou 3 anos vá se lembrar da minha cara no dia seguinte, afinal, ela tem mais é que curtir sua festa em vez de perder tempo comigo. Porém, o contato na entrega do presente e, por sua vez, o uso do "muito obrigado", força uma interação, mesmo que passageira, mesmo que de má vontade.  Em alguns casos - raríssimos -, alguns dias depois da festa são os pais que enviam algum agradecimento aos convidados, e é aí que eu acho que a coisa se torna  mais esquisita porque, por mais educado e elegante que seja, o gesto não parte da criança.

Outro momento que me chama a atenção é quando a festa "acaba". Não sei se é só minha impressão ou pura implicância, mas depois que o horário contratado chega ao fim,  parece que fica um vácuo no ambiente, e aí, ao olhar para a testa dos enfadados garçons e animadores, parece que está escrito: "por favor, a festa acabou e está na hora de vocês irem embora, porque estamos cansados e entediados dessas crianças e temos que arrumar essa bagunça."  Parece também que quem convidou acaba se tornando tão convidado quanto os demais convidados. Algo assim. Sei lá.

O roteiro das festas em casa de festas geralmente é previsível: depois do lanchinho, os animadores chamam as crianças para dançar e/ou os pais para participar de alguma atividade, que pode também ser uma dança, uma imitação ou um teatrinho. Após isso, vem o filminho, mostrando fotos dos momentos da criança no ano que passou.  Por fim, todos são chamados à mesa super decorada que, em muitos casos, não tem os docinhos, muito menos o bolo -  para cantar o parabéns. E o parabéns é o da Xuxa! 

E aí, lá vem eu de novo e pergunto: o que fizeram com o  simples e  antológico Parabéns Prá Você? Está fora de moda? Foi proibido? Ninguém mais conhece? Só tem em LP de 78 rotações?  Sim, eu sei que eu sou muito, muito, muito chata, mas será que eu fiquei parada no tempo? Será que, além de ser muito chata, eu é que sou uma enjoada, antiquada, cafona, brega?

Veja bem, isso não é uma crítica aborrecida às casas de festas, até porque não vou dizer que não penso em fazer festa de aniversário assim, afinal, elas resolvem o grande problema da atualidade: o tempo, ou a falta dele. Seus serviços livram os pais de aborrecimentos que vêm junto com a organização de qualquer evento, o que é ótimo, pois sobra tempo para o shopping e o salão de beleza, além de deixar a casa limpinha, o cachorro sossegado e o esmalte impecável. Portanto, por favor, não deixe de me convidar para a sua festa, mesmo que seja numa casa de festas.  Eu prometo que vou  tentar decorar o "Parabéns da Xuxa" e cantar junto.

Só que, não sei, às vezes eu fico pensando que virar algumas noites enrolando brigadeiros e enchendo balões, mesmo que, ao final, eu pense em cortar meus pulsos ao olhar a cozinha, me faz interagir muito mais do que me sentir mais uma convidada na própria festa.

Sei lá, entende?



Comentários
6 Comentários

6 comentários:

  1. rsrsrs Você é um barato!
    Esse é o preço da modernidade, Lu. A praticidade afasta as pessoas sim. Mas fazer o que, se até nossos abraços são virtuais?

    Abraço!

    ResponderExcluir
  2. Pois é, Neth, não sei se o problema é comigo só. No nosso caso, há a questão "kilometragem", que nos impede de termos contato físico e real. Não é o caso, mesmo, dessa praticidade muderna demais.

    Bjs.

    ResponderExcluir
  3. Lú, eu não entendo não, rssss

    Nunca passei um segundo sequer enrolando brigadeiros, mas acho que a magia da festa deve estar aí.

    Se tudo é comprado, alugado, ou seja terceirizado não saboreamos o processo "gestacional" da festa.

    Quando a Alana fizer a primeira festinha de aniversário eu reparto minha experiência e mando um convite para o DAVI e Família.

    Aliás, quando vierem para São Paulo, saiba que tem recepção para vocês aqui.

    ResponderExcluir
  4. Que bom que vc veio, Alê e o convite já está aceito, digo, o DAVI já aceitou o convite da ALANA!!!

    E a recíproca também é verdadeira: quando vier ao RJ, também tem recepção - longe do centro, tá - mas tem.

    Bjs.

    ResponderExcluir
  5. em janeiro é o niver do Pedrinho, mas to sem dindim pra festinha.

    ResponderExcluir
  6. Vivi, um bolinho, umas bolinhas e uns docinhos sempre são bem vindos e as crianças sempre gostam. Talvez aí esteja o sentido de se fazer a festa, ao invés de uma mega produção hollywoodiana!

    Bjs.

    ResponderExcluir

Obrigada por seu comentário!